Esses dias revi Gothic (1986), de Ken Russell, e… infelizmente não é tão bom quanto parece. Não que seja ruim, mas é um filme de pesos e contrapesos tão extremos que, até agora, não consigo defini-lo com precisão – não consigo decidir se gostei ou não.

A obra é uma releitura ficcional da visita dos Shelleys a Lord Byron na mansão Villa Diodati, às margens do Lago Genebra, na Suíça.

Quando estou em dúvida sobre minha opinião, leio outros críticos e, para minha surpresa, a maioria também se encontra nesse limbo. Vincent Canby, do The New York Times, disse que o filme é um “passeio pelo Túnel do Amor do Marquês de Sade”, uma “antologia de maneirismos do terror clássico mesclada a uma viagem de LSD dos anos 1960” – sem se decidir se isso é bom ou ruim. No mínimo, interessante.

Sem dúvida, trata-se de uma obra extravagante e profundamente original – qualidades que, pessoalmente, valorizo. No entanto, Gothic também cansa pela saturação e pelo exagero. É um filme tão epilético, frenético, espalhafatoso, alucinatório e delirante que, após certo tempo, suas imagens deixam de escandalizar ou instigar curiosidade.

Há filmes que entediam por nada acontecer; outros, como este, pelo excesso oposto. Confesso que o tédio me atingiu – assim como ocorre quando vejo as obras de Jodorowsky. Soma-se a isso o desempenho terrível dos atores e os diálogos horrivelmente cafonas – que ficam ainda piores quando pretendem ser intelectualmente refinados.

Mesmo assim, resisti a dar ao filme uma avaliação baixa. Afinal, Gothic é maravilhosamente filmado: cada quadro funciona como uma obra de arte viva na tela. Pretensiosa? Sim, mas ainda assim elogiável.

Podemos dizer que o pandemônio visual reflete o caos interior dos românticos, dessa aristocracia europeia simultaneamente decadente, cafona, pretensiosa e refinada – com rompantes de genialidade e beleza num oceano kitsch de excessos. De certa forma, é difícil achar um gótico que não se encaixe nisso.

Uma nota mediana talvez seja a mais justa – ainda que soe burocrática.

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