O Vampiro de John William Polidori e um debate sobre qualidade e importância

O Vampiro é uma prosa curta escrita em 1819 por John William Polidori, médico pessoal de Lord Byron.

A obra é muitas vezes vista como a progenitora do subgênero “vampiro” na literatura inglesa e descrita por Christopher Frayling (educador britânico, conhecido por seu estudo da cultura popular) como “a primeira história que conseguiu fundir com sucesso os elementos díspares do ‘vampirismo’ em um gênero literário coerente”.

O conto foi publicado primeiramente na The New Monthly Magazine no dia primeiro de Abril, com a falsa atribuição: “Um Conto de Lord Byron”.

Não sei se as brincadeiras de “primeiro de abril” eram populares ou mesmo existiam na Inglaterra nessa época, possivelmente o nome de Lord Byron foi usado por ser muito mais significativo em termos de marketing do que a do seu médico particular, que ninguém sabia quem era (e muito menos que escrevia).

O nome do antagonista da obra, Lord Ruthven, ajudou muito nesta confusão, pois esse nome foi originalmente usado no romance de Lady Caroline Lamb, Glenarvon, na qual uma figura MUITO mal-disfarçada de Byron também foi nomeada como Lord Ruthven.

As impressões posteriores, óbvio, removeram o nome de Byron e acrescentaram o nome de Polidori na página de título.

A história foi um sucesso popular imediato, em parte por causa da atribuição de Byron e em parte porque explorava as predileções do horror gótico do público. Polidori transformou o vampiro de um personagem folclórico para uma forma que até hoje é reconhecida — um demônio aristocrata que ataca entre a alta sociedade.

Sinceramente, eu nem achei a história boa ou bem escrita.

Estou bem fundamentado na posição de dizer que uma obra extremamente importante não precisa ser necessariamente boa ou bem escrita. H.P. Lovecraft diz mais ou menos isso da obra O Castelo de Otranto de Horace Walpole, obra seminal na literatura de horror, em seus ensaios sobre o horror sobrenatural na literatua.

Polidori até começa bem e inegavelmente tem ótimas ideias, mas do meio para o final parece que estava com pressa de terminar e sua obra e acabou nos jogando num aluvião de acontecimentos atropelados, sem a menor preocupação com o desenvolvimento do clima ou mistério, que ele estava conseguindo nas primeiras páginas.

Em suma, gosto pessoais à parte, o que não podemos discutir é que toda a imaginação mais popular sobre vampiros é tributária deste conto. Podemos dizer que sem Polidori, dificilmente o Drácula de Bram Stoker seria possível.

Trata-se de um autor que pegou carona no último vagão da importância literária – mérito dele.

A história

No enredo acompanhamos um jovem chamado Aubrey, que tem sua atenção direcionada a Lord Ruthven, um homem que, para ele, é tão misterioso quanto magnético.

Depois de o conhecer em alguma festa da alta sociedade londrina, Aubrey se oferece para acompanhar Ruthven em sua viagem Roma.

Ao longo da viagem, Aubrey foi notando que Lord Ruthven não apenas era apenas estranho, mas alguém que, sem que ele pudesse explicar exatamente, deixava um rastro de destruição, imoralidade e decadência por onde passava.

No meio da jornada, Aubrey resolve deixar Lord Ruthven depois de testemunhar o mesmo tentando seduzir a filha de um amigo em comum e viajar para Grécia, onde ele é atraído por Ianthe, a bela filha de um estalajadeiro.

Ianthe conta a Aubrey sobre lendas antigas de vampiro, que são logo rechaçadas por Aubrey com ceticismo, embora curiosiamente as descrições que Ianthe faz combinam muito com as que ele vivenciou junto com Lord Ruthven.

Estas lendas são tratadas com extrema seriedade tanto por Ianthe quanto pela população local, que evita certos locais e certos horários. Aubrey, insistindo em tratar tudo como mera superstição, se torna descuidado e acaba fazendo suas explorações em horários inapropriados.

Em uma de suas andanças, ele ouve em uma choupana os gritos de uma mulher e, ao investigar, é atacado por um ser que parecia ter duas vezes a sua força.

A criatura é espantada por tochas e Aubrey descobre que os gritos que ouviu era de Ianthe, que estava morta, coberta de sangue e com feridas no pescoço. Feridas típicas de um ataque de vampiro.

Aubrey então adoece e recebe os cuidados de ninguém menos que Lord Ruthven, que saiu de Roma e viajou até a Grécia a procura dele. Aubrey não liga Ruthven com o assassinato e se une a ele novamente em suas viagens.

O par é atacado por bandidos e Ruthven é mortalmente ferido. Antes de morrer, Ruthven faz Aubrey fazer um juramento de que ele não irá falar de sua morte ou qualquer outra coisa que ele saiba sobre Ruthven por um ano e um dia.

Aubrey retorna a Londres e fica espantado quando Ruthven aparece logo em seguida, vivo e bem.

Ruthven lembra a Aubrey de seu juramento de manter sua morte em segredo e, em seguida, começa a seduzir a irmã de Aubrey enquanto Aubrey, incapaz de proteger sua irmã, tem um colapso nervoso.

Ruthven e a irmã de Aubrey decidem se casar no dia do término do juramento. Pouco antes de morrer, Aubrey escreve uma carta para sua irmã revelando a história de Ruthven, mas a carta não chega a tempo.

Ruthven se casa com a irmã de Aubrey.

Na noite de núpcias, ela é encontrada morta, drenada de seu sangue — e Ruthven desapareceu.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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