Na discografia de uma banda ou de um artista específico, nem sempre o disco que mais representa a persona do artista é necessariamente o melhor ou o mais memorável.

Tenho alguns exemplos. “The X Factor” não é o melhor disco do Iron Maiden, mas é o espelho perfeito da introspecção de Steve Harris. “Skunkworks” parece ser tão temperamental e experimental quanto Bruce Dickinson. “Ozzmosis” é a perfeita expressão da melancolia de Ozzy Osbourne.

“Difficult to Cure”, lançado em 1981, é para mim um dos álbuns que melhor representa Ritchie Blackmore.

Foi o primeiro álbum a apresentar Bobby Rondinelli na bateria e Joe Lynn Turner nos vocais principais, após as saídas de Cozy Powell e Graham Bonnet, respectivamente, após o lançamento de “Down to Earth”.

O álbum é marcado por uma empreitada mais comercial. Segundo Ritchie Blackmore, ele estava na época ouvindo bastante a banda Foreigner, uma banda anglo-americana de Hard Rock, Power Pop e Soft Rock, e quis direcionar o som do disco nesse caminho.

O som mais voltado para um Hard Rock mais pop já é evidente na primeira faixa, “I Surrender” – música do compositor e hitmaker Russ Ballard. Esse estilo se estende em músicas como “No Release”, “Magic” e “Can’t Happen Here”.

No entanto, em alguns momentos, Ritchie Blackmore parece querer fazer um resgate nostálgico do Rainbow dos anos 70 e até mesmo flertar com o Deep Purple.

“Spotlight Kid”, minha música favorita do disco, é um exemplo disso. Ela parece ser a filha bastarda de “Burn” (Deep Purple) com “A Light in the Black” (Rainbow).

Ao longo do disco, em momentos mais ou menos evidentes, o Hard Rock com acenos de Rock Progressivo dos anos 70 é mesclado com o Hard Rock mais comercial dos anos 80.

Tudo isso permeado por uma influência, ora implícita ora explícita, da música clássica, que também é parte da formação musical de Blackmore.

Percebemos essa influência na já citada “Spotlight Kid” e também na faixa-título, “Difficult to Cure”, onde a Nona Sinfonia de Beethoven é tocada no meio da música.

Para ser sincero, sempre achei muito cafona temas batidos da música clássica serem reproduzidos por bandas de Rock.

No entanto, ouvindo esse disco novamente depois de anos, confesso que até gostei.

O resultado é estranho, mas bem único e memorável. Se você acha que todos esses elementos parecem não se combinar organicamente neste disco… você está certo. No entanto, de uma forma muito estranha, eles fazem sentido. E fazem sentido por aquilo que eu comentei no começo. Nenhum disco representa mais a personalidade contraditória de Ritchie Blackmore.

O disco flerta com o virtuoso, o extravagante, o pretensioso e o brega porque o próprio Ritchie Blackmore é virtuoso, extravagante, pretensioso e brega.

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