“O Sagrado e o Profano” foi um ensaio de Mircea Eliade, escrito para a coleção de livros de bolso que constituía a Enciclopédia Alemã Rowohlt.

Portanto, podemos conceber que se trata de uma obra concebida e redigida para o grande público, como uma introdução geral ao estudo fenomenológico e histórico dos fatos religiosos.

A ideia de Eliade é abrir diálogo com o homem do seu tempo. Por mais moderno que seja, Eliade mostra que ele ainda vive num mundo construído sobre valores religiosos do mundo antigo. O mundo moderno, apesar de uma aparente ruptura total, compreende a dinâmica do mundo sagrado instintivamente, pois recebeu essa herança.

Como o próprio nome do livro sugere, o que é explorado aqui é a dicotomia entre “sagrado” e “profano” e por que foi necessário fazer essa separação.

Eliade, neste livro, também discorre sobre o conceito de “hierofania”, termo criado por ele mesmo em seu livro “Tratado de História das Religiões” (1949) para se referir a uma consciência fundamentada da existência do sagrado e a sua manifestação no mundo.

Eliade estuda a interface do homem com essa realidade de valores superiores como um observador científico (e até moderno), ou seja, sem cair no “canto da sereia” das pessoas que normalmente se afundam nesse estudo e se tornam reativas diante da infeliz realidade de um mundo cada vez mais decadente em termos espirituais. Pessoas que normalmente buscam a reconstrução mitológica de um passado que nunca existiu.

Eliade não é isento de opinião, reconhece a triste realidade de um mundo dessacralizado, mas não soa desesperadamente propositivo ou incendiário.

Talvez por isso ele tenha sido considerado pelo historiador Mark Sedgwick como um “perenialista suave”.

O mundo moderno é um mundo doente e é exatamente no desconforto dessa doença que reside o perigo do surgimento de seitas, tariqas e mitificadores baratos.

Mircea Eliade é um tipo de estudioso que tenta ao máximo se esquivar de uma explicação mística ou esotérica. Sua perplexidade com o homem religioso primitivo tenta se abrigar em uma mistura de filosofia e antropologia.

Ele lamenta o tempo, mas não o homem. O homem, para Eliade, é religioso mesmo que ele não queira, pois, para ele, o homem é essencialmente “sedento de ser”. Ou seja, tem uma “inextinguível sede ontológica” e um completo pavor pelo “caos”.

 

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