Este filme explora a vida de duas trabalhadoras sexuais em Tóquio: Rei, que atua como “dominatrix”, e Ayumi, que trabalha como garota de programa convencional.
Além de suas vidas profissionais, o filme também examina suas vidas pessoais. Rei participa de uma companhia de teatro amador, enquanto Ayumi vive com seu namorado, um estudante que luta para ser aceito na faculdade de medicina.
Em certo ponto, Rei e Ayumi se tornam amigas, e o filme passa a retratar três núcleos distintos de interação: a vida de Rei, a vida de Ayumi e o encontro entre as duas.
Não é um filme convencional, e nem poderia ser. O mundo da prostituição, embora universal, não é geralmente colocado “à luz” na maioria das sociedades – embora esteja sempre presente e até mesmo cumpra um papel fulcral. O próprio Santo Agostinho já reconhecia essa realidade ao afirmar que “se as prostitutas forem expulsas da sociedade, tudo estará desorganizado em função dos desejos”.
Apesar do tema naturalmente submundano, o filme não enfatiza a tragédia, embora não a ignore completamente. Se não fosse pelo tema sexual, A New Love in Tokyo (que tem cenas explícitas, viu?) poderia ser um filme adolescente sobre duas amigas se divertindo em uma grande cidade.
O efeito cômico é situacional, mas também se constrói no subtexto temático. O filme explora a subversão, o ridículo e o degradante das figuras masculinas submissas que projetam seu poder para serem respeitadas, mas que escondem entre quatro paredes um desejo de submissão. Os clientes de Ayumi são, principalmente, empresários e membros da Yakuza.
No contexto da perversão sexual, os papéis sociais são invertidos, pois a projeção de poder dessas figuras é falsa e caricata. Dentro de cada “machão” retratado no filme, há um desejo devasso de ser humilhado – e as garotas se divertem com isso.
Outro aspecto interessante do filme é o subtema da teatralização da vida. Rei, como dominatrix e atriz de uma companhia de teatro, precisa se moldar a diversos papéis e lidar com a percepção pública deles em diferentes contextos.
Um dos momentos mais intrigantes do filme é quando um de seus clientes, um jovem da Yakuza, decide conhecê-la em sua “vida real” e vai assistir a uma de suas atuações no teatro, onde ela interpreta uma princesa – o exato oposto da personagem que ela desempenha com ele a portas fechadas.
Enfim, A New Love in Tokyo é um filme que mistura, de forma leve, drama, sexualidade, poder e identidade. Recomendo.
Segue uma das cenas mais divertidas do filme: