Kyoko Miyake é uma diretora e produtora de cinema japonesa premiada, que em seus trabalhos, explora algumas facetas obscuras (ou curiosas) da sociedade japonesa através de personagens reais.
Nos anos 80 e até meados dos anos 90, o Japão era considerado o país do futuro, e o otimismo e vitalidade do City Pop enchiam as rádios, como hinos de esperança de uma nação que se reconstruía após a guerra. No entanto, a partir da metade dos anos 90, uma espécie de cansaço começou a se instalar na sociedade, ao mesmo tempo em que a cultura pop japonesa se tornava mais infantilizada, quase como uma resposta “anti-establishment” de um país “adulto” que havia internalizado a ética corporativa do trabalho e da indústria.
Em “Tokyo Idols”, vemos Kyoko Miyake explorar uma faceta particularmente perturbadora do mundo dos “Idols”, por meio de Hiiragi Rio, uma cantora de J-Pop de 19 anos, relativamente conhecida.
Hiiragi Rio é uma jovem talentosa, adorada por uma dúzia de fãs fiéis que a seguem em todas as suas apresentações.
O aspecto perturbador dessa história é que grande parte dos fãs de Rio, especialmente os mais devotados, que conhecem todas as músicas e ensaiam todas as coreografias, não são adolescentes, mas homens adultos, solteiros, na faixa dos 35 a 50 anos.
São maquinistas, vendedores de eletrodomésticos, cozinheiros, mecânicos de manutenção industrial, gerentes de lojas de calçados – todos aparentemente muito solitários e com histórias de decepções amorosas profundas. Homens comuns na sociedade japonesa, anônimos, que quando não estão desempenhando suas funções profissionais, estão colecionando adesivos em álbuns cor-de-rosa, com fotos de adolescentes de 15 a 17 anos.
Há um componente sexual óbvio, mas também uma dimensão afetiva. No documentário, vemos homens que não conseguiram formar famílias e que encontram nas cantoras um reflexo daquilo que poderiam ter sido no passado, misturado com idealizações típicas de pessoas com pouco contato social e uma espécie de niilismo colorido – uma vontade de se sentirem jovens novamente. Eles tratam essas cantoras como se fossem filhas, namoradas e esposas que nunca tiveram e nunca poderiam ter.
O documentário também revela o lado das Idols, mostrando que muitas delas também desenvolvem relações afetivas com os fãs – um carinho que frequentemente não encontram em suas próprias famílias. Algumas até evitam namorar, pois sentem que estariam traindo seus fãs, criando uma relação de codependência platônica ultravirtualizada.