Alguns anos atrás, por volta de 2019 ou 2020, realizei uma maratona dos filmes de Martin Scorsese com o objetivo de criar um ranking pessoal.
Entre os filmes que assisti, o que menos me agradou na época foi A Cor do Dinheiro (The Color of Money), um filme baseado no livro The Hustler de Walter Tevis e também a continuação do filme The Hustler, lançado em 1961, dirigido por Robert Rossen e estrelado por Paul Newman.
Paul Newman, inclusive, retorna neste filme interpretando o mesmo personagem, Eddie Felson, um ex-campeão de bilhar que, em um bar, conhece Vincent (Tom Cruise), um jovem de grande talento no taco.
Eddie decide então ensinar tudo o que sabe a Vincent e fazê-lo se tornar a versão mais jovem de si mesmo. No entanto, a amizade entre eles entra em conflito devido à personalidade infantil de Vincent.
Trata-se de um character-driven-movie, onde a ênfase da narrativa está nas características do protagonista, e que, na época, achei dolorosamente genérico e impessoal.
Decidi então dar mais uma chance ao filme e reassisti-lo.
Descobri que estava errado. A Cor do Dinheiro é inquestionavelmente um filme bom, estiloso, sexy e charmoso.
Por algum motivo, estava apenas com muita má vontade na época e não percebi o quão bem Scorsese retratou o cenário dos clubes competitivos de bilhar norte-americanos.
Do ponto de vista visual, Scorsese trabalhou com ângulos de câmeras imersivas e uma fotografia elegante, explorando criativamente desde o reflexo dos jogadores nas bolas impecavelmente polidas até um refinado plongée das mesas de bilhar, realçando um panorama ao mesmo tempo expansivo e intimista dos estabelecimentos.
Do ponto de vista sonoro, Scorsese modelou o aparente desarranjo dos sons como um regente sinfônico, fazendo o barulho de bolas de acrílico batendo uma nas outras misturar-se musicalmente com o tilintar de copos de uísque e a trilha sonora de fundo, baseada em Eric Clapton, Robbie Robertson, Willie Dixon e até mesmo uma versão jazzística de Garota de Ipanema.
O único problema do filme é a sua longa duração desnecessária. São duas horas de filme, com muita repetição de cenas de jogos que, para mim, poderiam ser cortadas. Uma hora e trinta ou uma hora e vinte minutos seriam suficientes.
De resto, está longe de ser um filme ruim, como eu disse outra vez.