Who’s That Knocking at My Door é o primeiro filme de Martin Scorsese, estrelado por Harvey Keitel.
Este filme, considerado um rascunho do que seria Mean Streets de 1973, acompanha o anti-herói J.R (Harvey Keitel), um típico ítalo-americano de classe média-baixa dos subúrbios de Nova York, grosseiro e misógino, que compartilha em si o conflito de uma educação católica (vinda de casa) e das ruas (vinda das companhias) e que se vê apaixonado por uma garota (Zina Bethune), até descobrir que ela foi estuprada.
É interessante ver recentemente o ultimo filme de Scorsese (The Irishiman, 2019) e voltar ao primeiro, quase 50 anos atrás, para notar com clareza o quão consistente é a obra do diretor e quão pertinente são seus elementos mais característicos.
Este primeiro filme já mostra todos os elementos temáticos, técnicos e cênicos do universo scorseseano: brigas de rua, gangues, crimes, olhar antropológico para bandidos, gangsteres e vagabundos em geral, imagens religiosas e contemplação da suntuosidade das Igrejas Católicas como verdadeiros santuários de pureza e refúgio em contraponto com a sujeira do mundo, personagens com vida dupla, capazes de matar mas incapazes de resolver conflitos internos básicos de um relacionamento, machismo, rockabilly, soul, blues, gospel, sobreposição irônica de canções pop em cenas fortes, ângulos e movimentos variados de câmera, perspectiva “birdeye”, cortes secos, simetria renascentista e um completo domínio narrativo.
Tudo o que Scorsese fez ao longo dos seus 50 anos de carreira está aqui.
Como bem disse Scott Tobias (editor da The A.V. Club), Scorsese é um dos poucos diretores cujo trabalho seria fácil de identificar, mesmo que seu nome fosse removido dos títulos de abertura.
Como primeiro filme, ele não poderia ser mais “introdutório”.
Who’s That Knocking at My Door é muitas vezes criticado por ser machista e cru demais. Esse tipo de crítica diz mais respeito ao mundo róseo do crítico do que o mundo cinzento que Scorsese viveu.
Scorsese sempre trabalha a perspectiva do pecador, mas passa longe de fazer a celebração do pecado.
Desde o primeiro momento, Scorsese se mantém sempre um passo a frente, tanto de feministas quanto de conservadores – e isso só é possível quando se tem vivência