Algorítimo e Amor de Plástico do Revival do City Pop

Mariya Takeuchi é uma figura influente do City Pop e uma das artistas mais famosas do Japão, com impressionantes 16 milhões de discos vendidos. Sua estreia oficial ocorreu em 1978, com o disco Beginning, que já conquistou um sucesso significativo. O sucesso comercial de Mariya só aumentou com o tempo, culminando no disco Love Songs (1980), seu primeiro álbum a alcançar o primeiro lugar nas paradas japonesas.

No entanto, até aquele momento, poderia-se considerar o sucesso dela um fenômeno local.

No auge de sua carreira, Mariya anunciou que entraria em um hiato temporário, rescindindo seu contrato com a RCA Records, sua gravadora na época. Três anos depois, em 1984, Mariya, junto com seu marido e parceiro musical Tatsuro Yamashita, assinou com a Moon Records e lançou seu sexto disco, Variety, que obteve ainda mais sucesso do que o anterior.

Esse disco projetou Mariya internacionalmente, transformando-a de fato em uma artista global.

No entanto, foi em 1985 que ela fez talvez a coisa mais importante de sua carreira – algo que não seria imediatamente reconhecido, mas que quase 30 anos depois se tornaria a peça essencial de um fenômeno futuro: a música Plastic Love.

Lançada como single, Plastic Love se tornou o centro de uma inesperada e repentina onda de resgate da música japonesa dos anos 80, conquistando grande interesse por esse gênero no início da década de 2010. Sim, em 2010, 25 anos depois de seu lançamento.

Quando a música foi carregada no YouTube pela primeira vez, rapidamente acumulou 67 milhões de visualizações. Entre os fãs mais entusiasmados, o pessoal do Gorillaz.

Isso se deve ao fenômeno vaporwave, que basicamente adotou a música como um símbolo.

O vaporwave é um gênero estético que surgiu no início dos anos 2010, caracterizado por uma mistura de sons eletrônicos, influências da música dos anos 80 e 90, e uma forte ênfase na nostalgia, no retrofuturismo e na “celebração crítica” do capitalismo.

É um fenômeno frequentemente associado a imagens de synthwave, gráficos de baixa resolução, colagens de arte digital, logotipos de empresas obsoletas e referências à internet primitiva.

O City Pop se encaixava perfeitamente nesse fenômeno, pois o Japão dos anos 80 recriava toda essa atmosfera com precisão.

Graças ao algoritmo do YouTube, a música obteve uma exposição massiva, alimentada por um crescente interesse por um estilo estético digital baseado na nostalgia, em um passado mais otimista, colorido e, não menos importante, melancólico.

Podemos entender o fenômeno do City Pop de duas maneiras: de forma orgânica, como um estilo musical de uma época e lugar específicos (o Japão dos anos 80), e de forma artificial, como um fenômeno de “acidente virtual”, do qual sou parte.

Sou um ouvinte tardio de City Pop, e estou consciente de que meu senso de nostalgia em relação a esse tipo de música é tão artificial quanto o “amor de plástico” sugerido no título da canção.

Mas por que eu deveria me preocupar com isso? Por que isso deveria ser problematizado?

Não tenho nenhuma vergonha de dizer que fui pego pelo hype, pela modinha, que me rendi às recomendações do algoritmo e que estou adorando.

As músicas são boas, os arranjos são ótimos, mas, além disso, me vejo como cobaia voluntária de um típico fenômeno digital de recomendação e recriação artificial de fenômenos culturais.

Estou feliz com isso.

Mariya Takeuchi também deve estar adorando. Ela, que nunca parou de trabalhar, viu o interesse por sua música crescer novamente de forma repentina.

Em 2020, 36 anos depois, ela voltou milagrosamente ao primeiro lugar nas paradas de sucesso com o single Song of Life, tornando-se a cantora japonesa mais velha a alcançar esse feito.

Está todo mundo feliz.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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