Em ‘O Sagrado e Profano’, Mircea Eliade analisa a recorrência do símbolo quaternário em quase toda expressão religiosa tradicional.
Em Bali, assim como em certas regiões da Ásia, quando se empreende a construção de uma nova aldeia, procura-se um cruzamento natural, onde dois caminhos se cortam perpendicularmente, dividindo o espaço da nova aldeia em quatro setores, sendo o ponto central o lugar mais sagrado, o “imago mundi”.
Esse mesmo método é repetido na Nova Guiné, onde no meio do vilarejo, dividido pela mesma regra quaternária, coloca-se uma pedra sagrada.
Os primeiros assentamentos de Roma também utilizaram a mesma noção quaternária para organizar o espaço na ideia de “Roma Quadrata”.
Segundo a lenda, a “Roma Quadrata” foi estabelecida pelo rei Rômulo, filho da loba, que traçou um quadrado no chão usando um arado como parte de um ritual de consagração.
O centro cósmico foi estabelecido ali e a glória de Roma se expandiria para os quatro cantos do mundo.
Esse desenho é sempre recorrente e sempre interessante. Em todas as vezes, temos o quadrante e o centro, que é sempre sagrado.
Agora, já parou para ver como é esquematizado um crucifixo?
Parece que Cristo não foi apenas crucificado por uma contingência histórica, mas foi justamente crucificado, entre outras coisas, para ressignificar a contingência histórica e material na linguagem divina por excelência, que, como bem disse Santo Agostinho, consiste em palavras, sinais, coisas, símbolos, acontecimentos.
Isso nos traz de volta ao centro sagrado, o “imago mundi” de Deus crucificado, irradiando a mesma regra quaternária de sempre. A mesma regra que sugere expansividade, a regra quaternária que sugere a totalidade. A mesma percepção simbólica primitiva das aldeias de Bali, Nova Guiné e Roma.
Por isso mesmo, o crucifixo autêntico tem a imagem do Nosso Senhor no centro, não essa violação simbólica que inventaram de “cruz vazia”.