Hefesto é filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses, ou, de acordo com alguns relatos, apenas de Hera.
É o deus da tecnologia, dos ferreiros, dos artesãos, dos escultores, dos metais, da metalurgia, do fogo, dos vulcões (ele corresponde a Vulcano na mitologia romana) e do lume.
Segundo Mircea Eliade, Hefesto ocupa uma posição única na religião e na mitologia grega. De acordo com Hesíodo, Hera gerou-o “sem união amorosa, por cólera e como desafio ao seu esposo”. Além disso, Hefesto distingue-se de outros deuses olímpicos pela feiura e deformidade. Ele é coxo dos dois pés, torto ou cambaio, e necessita de apoio para andar. Esse apoio, simbolizando a tecnologia, é vital para Hefesto ficar de pé, pois sem ele, seria incapaz.
Em uma versão, sua deformidade foi consequência da sua queda sobre a ilha de Lemnos. Segundo a Ilíada, Zeus o precipitou do alto do Olimpo por haver tomado o partido de sua mãe. Em outra versão, seria Hera quem o teria lançado ao mar no momento do seu nascimento, envergonhada pela deformidade do filho (ou seja, ele já era deformado desde o nascimento).
Independentemente da origem de sua deformidade, sua história é sempre marcada por esse estigma. Hefesto é renegado em todas as histórias.
Ele também foi cuidado por duas nereidas, Tétis e Eurínome, que o recolheram em uma gruta profunda no meio do oceano. Foi ali que, durante nove anos, Hefesto fez seu aprendizado como ferreiro e artesão.
Eliade reforça que, em Hefesto, há ainda os tópicos subjacentes da tortura iniciática e do sacrifício, pois sua aprendizagem do artesanato, da metalurgia, da tecnologia e da ciência (ou, resumidamente, do trabalho) ocorreu em um contexto explícito de queda, de rebaixamento, de precipitação.
Os trabalhos de Hefesto são, ao mesmo tempo, obras-primas da arte e dos prodígios mágicos. Na Ilíada e na Odisséia, diz-se que ele fabrica colares, fivelas, colchetes, brincos, além do escudo de Aquiles, dos cães de ouro e prata que flanqueiam a porta do palácio de Alcíno, das resplandecentes moradas dos deuses. A pedido de Zeus, ele fabrica Pandora, a primeira mulher mortal, com argila e a anima.
Também é dele o elmo alado e as sandálias de Hermes, o peito de armas conhecido como égide, a célebre cinta de Afrodite, o cetro de Agamenon, a armadura de Aquiles, os crótalos de bronze de Héracles, a carruagem de Hélio (bem como a sua própria), o ombro de Pélops, o arco e flecha de Eros.
Hefesto trabalhava com o auxílio dos ciclopes ctônicos, seus assistentes na forja.
Além disso, construiu autômatos de metal e ouro que trabalhavam para ele. Sim, Hefesto inventou a robótica.
Hefesto também é conhecido como um mestre-artífice e senhor do laço, aquele que amarra e desamarra: coisas que normalmente são atribuídas a anjos, demônios ou figuras similares.
É dele a corrente que prende o Prometeu. É dele o trono de ouro de Hera, cujos laços invisíveis a prendem tão logo a deusa nele tomar assento.
Ele também já prendeu Ares e Afrodite, sua esposa, em uma rede invisível.
A ideia simbólica do laço como qualidade mágica de um deus caído é algo que até hoje é popularmente utilizado, relacionado a alguma ideia correspondente de dificuldade.
É comum vermos a palavra “amarração” sendo utilizada tanto por pastores evangélicos, babalorixás e cartomantes de rua, como se fossem correspondentes modernos dos xamãs paleolíticos, onde havia uma relação bem direta entre magia e tecnologia na figura universal do laço (contrariando a equivocada interpretação da feiticeira brasileira Joana Prado, que insistia na contradição entre as duas coisas).