Inconformista, provocadora e à frente de seu tempo, Izumi Suzuki pode ser uma das escritoras mais significativas e proeminentes da literatura japonesa contemporânea, e seus contos, tardiamente traduzidos para o inglês, estão finalmente recebendo a devida atenção.
Nascida em 1949 em Itō, província de Shizuoka, Suzuki cresceu no cenário nacional do pós-guerra.
A contracultura no Japão é interessante porque é ambígua – no sentido de ser gestada, ressignificada e maturada quase instantaneamente. O nacionalismo de Mishima, por exemplo, pode ir de propaganda de guerra a um panfleto revolucionário em pouco tempo.
Os discos dos Rolling Stones são reconhecidos como peças de apelo contracultural e chegaram ao Japão junto com as forças de ocupação ocidentais, que estabeleceram no imaginário da juventude japonesa uma ambiguidade mal resolvida de revolta e a conformidade geopolítica do novo Japão.
Suzuki passou a maior parte dos seus 20 anos em ambientes multiculturais como Honmoku e Yokosuka, famosos por importar música e filmes dos Estados Unidos.
Sem surpresa, muitas de suas histórias, como as contadas em seu livro Hit Parade of Tears, incluem referências relacionadas ao mundo do Rock and Roll e à cultura de groupies.
Suzuki mudou-se para Tóquio depois do ensino médio e trabalhou inicialmente como recepcionista de bar. Ela se tornou membro do grupo cênico de Shūji Terayama. Além disso, foi modelo para o fotógrafo erótico Nobuyoshi Araki, cujas fotos mais tarde se tornariam as capas das recentes edições traduzidas para o inglês de seus livros.
Esses retratos foram compilados em uma coleção póstuma intitulada Izumi, “this bad girl”, que enriqueceu sua imagem estética característica. Unhas pintadas, olhos penetrantes e um cigarro na mão representam algumas das características mais proeminentes que embelezavam sua silhueta. Essas fotos, pouco ortodoxas na época, e seu visual escuro e boêmio lhe deram o status de uma figura cultural de alto impacto.
Em 1973, ela se casou com Kaoru Abe, um saxofonista de free jazz, e teve uma filha. Após um breve, mas tumultuado casamento, eles se divorciaram em 1977. Abe morreu de overdose um ano depois, aos 29 anos – a mais ocidental das mortes.
Os anos que se seguiram à sua morte foram os mais prolíficos de sua carreira, pois esses eventos influenciaram significativamente sua escrita. Oito anos após a morte de Abe, aos 36 anos, Suzuki infelizmente tirou a própria vida – a mais oriental das mortes.
O relacionamento problemático de Abe e Suzuki se tornou o assunto do romance Endless Waltz (1992) de Mayumi Inaba, que foi adaptado para um filme semi-erótico (1995) por Kōji Wakamatsu.
A ficcionalização do casal irritou sua filha, que eventualmente processou o autor do livro por sua representação. Mas esta adaptação, tanto escrita quanto visualizada, reforçou ainda mais o ideal de Izumi Suzuki como uma garota sedutora, criativa, mas apaixonada, e uma vítima de abuso pelo amor de um gênio quase musical.
Quanto à sua carreira de escritora, podemos dizer que ela se tornou em tempo integral após ganhar o Prêmio Bungakukai de 1970 para Novos Escritores.
Surpreendentemente, ela se enveredou na escrita de ficção científica. Essas histórias são reunidas em Hit Parade of Tears.
Infelizmente, suas obras permaneceram por muitos anos desconhecidas, pois o mundo da ficção científica, que grassava naqueles anos, era considerado um rigoroso “clube de meninos”.
Essa é uma das razões pelas quais há tão pouca informação em inglês sobre ela, já que os artistas homens, mesmo que menos notórios, recebiam mais reconhecimento.
Esse distanciamento, no entanto, fez com que ela se destacasse estilisticamente das obras escritas por seus pares do sexo oposto. Por exemplo, em sua escrita, biografia, sexo e gênero literário estão interligados, e muitos dos assuntos que ela trata em sua escrita se destacam em diversos aspectos criativos. Em Women and Women, da coleção Terminal Boredom, ela escreveu sobre um mundo onde os homens quase morreram e os que sobraram ficaram isolados na “Gender Exclusion Terminal Occupancy Zone – ou GETO”.
Este conto, ora é definido como cômico, ora como sarcástico – o que temos aqui, em sua definição mais superficial, é uma utopia matriarcal derivada da destruição de um mundo masculino.
No entanto, para surpresa das leitoras ocidentais, não se trata definitivamente de uma literatura feminista. O mundo masculino na ficção parece corresponder o mundo marginalizado do Rock, da guerra e da literatura de ficção-científica.
Existe uma ambivalência crítica mal resolvida devido às complexidades típicas do seu país naquele momento específico, algo semelhante ao que pode ser notado em Persepolis, de Marjane Satrapi, que é permeado por uma relação conflituosa de amor e ódio tanto ao Irã quanto à cultura ocidental.
Os romances de Suzuki retratam e incorporam perfeitamente o estado de sua geração sem o apelo de discursos prontos. Ela organicamente compartilha a mesma condição contemporânea apática de boa parte dos jovens de sua época. Uma condição causada por um mundo pós-guerra e pós-capitalista moldado pelo consumo excessivo e pela frieza, onde, como Suzuki escreveu, “nada alivia o tédio” – e que também não encontra alternativas a esse mundo, pois a própria cultura japonesa tradicional era, para ela, sufocante.
Os Estados Unidos, aqui, são uma força estrangeira impositiva de ambiguidades de liberdade e escravidão, ao mesmo tempo uma força reprovavél e desejavel de agressão e promessas emancipatórias, de bombas nucleares e discos de Rock, calça jeans e democracia.