Baseado no mangá yonkoma Nono-chan criado por Hisaichi Ishii, foi o primeiro filme digital do Studio Ghibli.
O filme é um retrato da família Yamada, uma família como todas as outras, com os mesmos dilemas, alegrias e descobertas. Basicamente é só isso que podemos dizer da sinopse.
A genialidade do filme não é nem por conta da história (que é divertidíssima), mas pela sua forma narrativa em formato de Haiku (alguns haikus de Bansho, inclusive, são citados no filme).
O Haiku é uma forma curta de poesia japonesa caracterizada por uma justaposição dialética entre duas ideias – que nascem de uma motivação, do “momento haikai”, uma captura “impressionista” do poeta do momento de sua inspiração.
“Meus Vizinhos, os Yamadas” é justamente isso. A história de uma família sendo contada no fio narrativo dum conjunto de uma série de pequenas vinhetas situacionais.
O filme flutua de cena em cena sem restrições narrativas e sem dialogar com “os grandes dramas da humanidade” (o que deixaria o filme pobre) – se sustentando apenas com impasses quotidianos e banais, como esquecer o guarda-chuvas num dia de chuva.
No entanto, nem por isso, o acúmulo de impasses pequenos do quotidiano é uma neblina para tratar assuntos mais sérios, subjacentes a própria seriedade de uma família.
As vezes, temos a impressão de estar vendo um filme enganosamente leve, que, imbuindo em seu estilo de animação simplista e humor malicioso, transborda um nível surpreendente de filosofia – novamente, como um haiku.
Cada vinheta consegue reunir suas próprias epifanias minúsculas sobre a convivência de um com os outros e de cada personagem consigo mesmo. Epifanias que se acumulam ao longo do filme e, quando menos percebemos, estamos diante de uma complexidade de fazer inveja a qualquer Bergman da vida.
A animação, experimental, se propõe na estética de um desenho simples e aquarelado, bem diferente de qualquer outra coisa feita no Studio Ghibli. Os dramas banais do quotidiano ganham contornos fantásticos e lúdicos.
Assim como a narrativa do filme flutua, a animação de Takahata também se liberta dos grilhões tradicionais da animação, dos grilhões do próprio Studio Ghibli, se permitindo até a alternar estilos para um determinado propósito narrativo (coisa que já era embrionária no fraco Pom Poko).
Mais uma pérola meio desconhecida do Studio Ghibli, e, pra mim, tão bom quanto os melhores filmes do Studio.