Firepower foi um disco que ouvi muito na época do seu lançamento, em 2018. De acordo com as estatísticas do Spotify daquele ano, o álbum estava em primeiro lugar entre os mais ouvidos. Anos depois, ficou um pouco esquecido. Talvez não tenha envelhecido tão bem ou realmente não tenha me cativado tanto a ponto de ter com ele uma relação duradoura, tal como eu tenho com discos como Brave New World e Painkiller.

Resolvi ouvir novamente e toda aquela empolgação que senti em 2018 voltou com tudo e, quase como uma memória muscular adormecida, comecei a mexer a cabeça como há muito não fazia com um disco de Heavy Metal.

O grande diferencial desse disco nem é apenas a banda em si, que está demonstrando uma desempenho de alto nível como de costume, mas o espetacular trabalho dos produtores Tom Allom (que trabalhou com Pat Travers, Black Sabbath e Judas Priest até o Ram It Down de 1988) e Andy Sneap (que trabalhou com artistas um pouco mais modernos como Arch Enemy, Blaze Bayley, Cathedral e Megadeth). A decisão da banda em trabalhar com dois produtores com abordagens diferentes foi acertada, unindo um estilo de produção clássico e moderno. Isso alinhou perfeitamente à proposta do disco: moderno e, ao mesmo tempo, ancorado no passado.

O baterista Scott Travis disse que o álbum era resultado de um esforço consciente, orgânico e natural de revisitar o passado da banda e o coloca-lo em nova perspectiva.

Halford afirmou que o desejo da banda ao criar o som de Firepower era “reinventar alguns clássicos momentos do Priest” e que seria evidente perceber “o tamanho e a largura das raízes da banda”, que, segundo ele, “remeteriam a discos como Sad Wings of DestinyScreaming for VengeancePainkillerBritish SteelSin After SinKilling Machine, etc.”. Ele descreveu o álbum como um momento incrível não apenas para o Judas Priest, mas para o próprio Heavy Metal (adoro a falta de modéstia de Rob).

Faulkner descreveu o processo de composição como mais “livre” e “relaxado” e disse que a ideia de revisitar os clássicos da banda não foi algo consciente de sua parte. Ele explicou que muitas das ideias de Firepower já estavam sendo trabalhadas há muito tempo.

E, de fato, esse disco remete bastante aos trabalhos anteriores da banda.

O disco ainda possui uma orientação de temas típicos do Judas Priest: uma mistura maravilhosa de distopia milenarista, escatologia cristã e rebeldia com mensagens positivas de superação e otimismo, temperadas um pouco com uma projeção de poder homoerótica. Rob Halford assina todas as letras do Priest e é incrível que, mesmo orgulhosamente gay, seja uma das figuras menos identitárias que conheço.

Aparentemente, Halford se identifica mais como inglês do que como homossexual. O disco estava pronto desde 2017 e a intenção era lançá-lo no começo deste ano. No entanto, optou-se por lançá-lo em 2018 em decorrência do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Halford queria incluir, como homenagem àqueles que morreram pelo seu país, uma música chamada Sea of Red. Incrível!

Em suma, o álbum apresenta muitos “fluxos e refluxos”, resultando em uma sonoridade variada, moderna, e que sumariza muito bem o que é o Judas Priest (e o próprio Heavy Metal tradicional): riffs rápidos, ganchos melódicos, vocais agudos, orientação operística e ufanismo homoerótico.

Todas as músicas são maravilhosas, mas a minha favorita ainda é Never the Heroes, que tem uma pegada oitentista maravilhosa.

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