Poucos filmes geraram tanto ódio de público e crítico quanto Joker: Folie à Deux, a sequência do aclamado filme Joker (2019), dirigido por Todd Phillips.

Estrelado por Joaquin Phoenix e Lady Gaga, o enredo é vagamente baseado nos personagens Joker e Harley Quinn das histórias em quadrinhos do Batman, da DC Comics.

O filme surpreendeu, muito negativamente, por ser uma espécie de drama musical aparentemente sem contexto.

Críticos observaram que o filme é uma obra de metaficção, projetada para antagonizar intencionalmente o público que era fã do primeiro filme. Em vez de ceder às expectativas da base de fãs do antecessor, o filme serve para repreender aqueles que idolatraram o personagem do Coringa após o filme original.

Como um esforço deliberado anti-público, o filme vai contra a noção de fan service, criando uma narrativa autoconsciente que é um comentário sobre sua própria existência. Em uma das cenas, o Coringa até reconhece isso, dizendo: “eu não acho que estamos dando ao público o que ele quer“.

Foi exatamente nessa proposta que o filme me conquistou.

Minhas impressões sobre alguns detalhes da obra são ainda muito nebulosas, mas confesso que elas me indicam que a imobilidade quase catatônica do filme (que, de fato, não acrescenta em nada ao primeiro e nem avança para lugar nenhum) me soou muito bem.

Saí do cinema com a ideia fixa de que tudo o que vi foi intencional e que a real intenção do filme era, sem sombra de dúvidas, implodir tudo o que tínhamos de expectativa: a noção de sequência, a noção de herói, a noção de anti-herói, a noção de vilão e, principalmente, a própria noção de gênero. Tudo aquilo que Lana Wachowski tentou fazer em Matrix Resurrections e não conseguiu.

O próprio filme parece sofrer da mesma dissociação de personalidade de seu personagem principal.

Não é um filme musical; é um filme que tem musical. Não é um drama de tribunal; é um filme que contém um drama de tribunal. Não é um drama psicológico; é um filme que contém um drama psicológico.

São esses fragmentos (musicais, dramáticos e psicológicos) que fazem a composição gestáltica da obra. A unidade nunca é apenas a soma de suas partes. Não me pareceu que o filme tenha erros ou ideias pela metade. O que há aqui, pra mim, são ideias que são constantemente implodidas.

Fazia tempo que não me sentia desafiado como espectador.

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