Eu percebo que algumas obras muito específicas me cativam isoladamente e eu vou ter que conviver com isso.
Já elogiei Prometheus, de Ridley Scott, como um dos melhores filmes da franquia Alien e, recentemente, Joker: Folie à Deux, de Todd Philips, como um dos melhores filmes do ano.
Não quero pagar de diferentão; eu REALMENTE achei esses filmes bons.
Agora vou elogiar Dragon’s Heaven, um OVA de 1988 dirigido por Makoto Kobayash que acabei de assistir.
A história se passa no ano 3195, depois de uma guerra entre um exército de robôs e os humanos.
Acompanhamos aqui Shaian, um robô de combate senciente que perdeu seu piloto em batalha e, desde então, se mantém desligado.
Cerca de 1000 anos depois, o seu inimigo, responsável pela morte do seu piloto, reaparece vivo em operações militares no Império do Brasil (sim, o Império do Brasil) — ele então reativa seu sistema e convence Ikuuru, uma geniosa garota que entende muito de mecânica, a se tornar seu novo piloto.
Apesar da história e do desenvolvimento dos personagens serem básicos (e até clichês), eu amei isso aqui.
Minha introdução a respeito do isolamento da minha opinião se dá porque, mais uma vez, eu me vejo confrontado com essa realidade.
Pelo que andei pesquisando, ele não é um desenho tão conhecido ou tão conceituado. Na verdade, as notas mais favoráveis deste anime não costumam colocá-lo muito acima do mediano. No entanto, reforço: eu AMEI Dragon’s Heaven.
Vamos ser honestos, esse tipo de obra normalmente não é conhecido por ter boas histórias ou desenvolvimento elaborado de temas ou personagens. Meu Deus, não quero parecer culto, mas já li a obra completa de Dostoiévski – eu sei o que é literatura de gente grande.
Então, eu normalmente não espero nada elaborado ou sublime e edificante de absolutamente nada que venha da ficção científica de entretenimento.
Isso, eu acho, que me dá certa liberdade para olhar outros pontos e admirá-los.
Não sou o tipo de pessoa que vai procurar “sacadas geniais” em desenho de navinha e robô. Pelo amor de Deus!
O que me chamou a atenção em Dragon’s Heaven, além da inusitada ambientação em um Brasil distópico, desértico e futurista (que, a bem da verdade, poderia ser qualquer lugar — já que não vi nada que me soe familiar no cenário), são os primeiros minutos do anime em live action com modelos animatrônicos (que eu achei bem criativos) e, principalmente, a modelagem das máquinas e do ambiente.
A estética de Dragon’s Heaven é deslumbrante e sugere influências “sandpunk” de Jean Giraud, Moebius e Star Wars, com certa inspiração “biopunk” de Nausicaä do Vale do Vento, primeiro (e para mim, o melhor) filme do Studio Ghibli — especialmente no aspecto insectóide das máquinas.
Às vezes, eu fico admirado que Dragon’s Heaven não tenha tantos admiradores (nem mesmo há uma empolgação em relação ao mangá – talvez isso seja diferente no Japão) — mas lembro que muitas das minhas opiniões costumam reverberar em outras pessoas.
Eu vejo outros OVAs muito mais elogiados e queridos pela comunidade e pela audiência que não me impactaram tanto quanto esse.
Eu fiquei com vontade até mesmo de adquirir a mídia física disso — além dos mangás.
“Ain, a arte é boa e a história é ruim. Então veja o artbook e não o anime. “
Não, eu quero ver o anime mesmo. O artbook é um complemento. Ver as coisas se movimentando na tela, com esse conceito biomecânico simplesmente brilhante das máquinas, é essencial.
Se eu quiser história de verdade eu abro Hamlet. Quero mesmo é a experiência estética.
A mesma coisa acontece com o filme Akira. Eu sei que ele não tem uma história tão elaborada e bem amarrada quanto o mangá, mas é bom de um jeito que o mangá nunca será.

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Dragon’s Heaven
4/5
Dragon's Heaven -
1988
Makoto Kobayashi
A estética de Dragon's Heaven é deslumbrante e sugere influências "sandpunk" de Jean Giraud, Moebius e Star Wars, com certa inspiração "biopunk" de Nausicaä do Vale do Vento, primeiro (e para mim, o melhor) filme do Studio Ghibli — especialmente no aspecto insectóide das máquinas.