Muita coisa foi dita a respeito deste álbum ao longo das décadas.
A maioria das críticas foi bastante entusiasmada e positiva, e a aceitação do público foi a melhor possível. Brave New World ressuscitou comercialmente a banda, reposicionando-a como um dos principais atrativos dos grandes festivais.
No entanto, o disco não foi unânime.
A Blabbermouth criticou o álbum, considerando-o regular por perceber uma tentativa de reanimar a sonoridade obsoleta da banda. Já a NME (New Musical Express), empolgada com a onda do Nu Metal na época, declarou o disco fraco e ultrapassado, afirmando que o Iron Maiden representava uma expressão quixotesca de um estilo de heavy metal que já não precisava existir.
Acho que nada poderia envelhecer pior do que essa crítica.
A popularidade do Nu Metal não durou cinco anos e, em termos de relevância, gostando ou não do estilo (e hoje gosto mais do que na época), só realmente lançou uma banda expressiva: o Slipknot. A moda do Nu Metal passou, morreu e ressurgiu recentemente, curiosamente, como uma manobra nostálgica — a mesma manobra da qual o Iron Maiden foi acusado na época do lançamento de Brave New World.
A diferença entre o Iron Maiden e os novatos é a consistência, e isso faz toda a diferença.
Hoje, a esmagadora maioria dos críticos já considera o álbum um clássico, um dos melhores discos da banda, e gradativamente ele vem sendo reconhecido como um dos melhores “comeback albums” de todos os tempos (opnião do famoso The Needle Drop).
Como todos já sabem, neste disco, o Iron Maiden está de volta com sua formação clássica e consagrada (Bruce, Adrian, Dave, Nicko e Harris) — mas, pela primeira vez na história da banda, conta com três guitarristas.
Aqui temos uma formação ao mesmo tempo nova e familiar, representando uma resolução dialética entre o Iron Maiden dos anos 80 e o dos anos 90.
A manutenção de Janick Gers na banda, muito criticada por alguns fãs, não foi, para mim, uma decisão meramente baseada em camaradagem (como circularam boatos) — Steve Harris nunca foi conhecido por manter membros por amizade (senão, Blaze nunca teria saído da banda).
A decisão foi criativa e, ao meu ver, até mesmo uma necessidade. Desde sua entrada, Janick Gers tem sido um dos compositores mais produtivos da banda. Acredito que o Iron Maiden precisava de três guitarristas para sua nova proposta sonora e também das composições de Janick.
Obviamente, Brave New World não seria interessante sem Bruce Dickinson e Adrian Smith, mas também não seria a mesma coisa sem Janick Gers, que, quase como uma resposta à NME na época, afastou qualquer possibilidade do Iron Maiden se tornar um cover de si mesmo nos anos 80.
Essa decisão criativa de Steve Harris foi acertadíssima e abriu um novo caminho para o Iron Maiden ser, ao mesmo tempo, uma nova banda e a mesma de sempre.
Brave New World ancorou-se, sim, no passado, misturando elementos de Seventh Son of a Seventh Son, Powerslave, Piece of Mind, Virtual XI e X-Factor, mas também soou diferente de tudo o que a banda havia feito até então.
Brave New World se tornou o arquétipo e melhor representante do “típico disco de heavy metal tradicional dos anos 2000”: extremamente conciso, cativante, simples, levemente orquestrado, com solos cantarolantes (no melhor estilo Wishbone Ash), ao mesmo tempo cru e melódico, repleto de momentos memoráveis, com ascensos moderados ao hard rock dos anos 70 e ao rock progressivo e paradoxalmente moderno.