Antes de mais nada, é bom deixar claro: o filme como adaptação é uma porcaria e passa longe do conto original!

OK!

Nem dava para esperar uma adaptação fiel ao violentíssimo conto original de Edgar Allan Poe, onde temos passagens completamente DEATH METAL como esta:

“Após uma investigação completa de cada porção da casa, sem novas descobertas, o grupo entrou em um pequeno pátio calçado, que fica na parte de trás do edifício, onde jazia o corpo da velha senhora, com a garganta cortada a tal ponto que, ao tentarem erguer o cadáver, a cabeça caiu no chão. Tanto o corpo como a cabeça estavam terrivelmente mutilados; o primeiro a um ponto que mal retinha qualquer semelhança com um corpo humano.”

Pra compensar a falta de DEATH METAL, o filme sugere coisas grotescas como experimentalismo científico envolvendo bestialidade.

Sugestão que é dissolvida por um romance bobo e caricato e umas piadinhas que fariam os filmes da Marvel parecerem de adulto.

O problema nem é esse, afinal. O problema dele como adaptação é que o filme nem pode realmente ser chamado de adaptação.

Robert Florey mudou praticamente tudo na história.

Todo mistério do conto original é dissolvido numa espécie de história de Frankestein misturada com King Kong.

Não há também nenhuma sinalização de ser uma história detetivesca, como o brilhante conto original é (conto que influenciou tanto G.K. Chesterton quanto Arthur Connan Doyle).

O que Assassinatos da Rua Morgue de Robert Florey tem em comum ao conto de Edgar Allan Poe é apenas o título e alguns elementos nominais (detetive Dupin, o macaco, Paris, a rua Morgue e… acho que é só).

No entanto, se você conseguir aguentar um detetive Dupin como um Romeu parisiense piegas pra caralho ou o fato deles chamarem Chipanzé de Gorila o tempo todo (Deus, como isso me irritou), dá para perder 1 horinha – apenas de curiosidade.

É um filme de 1930 feito claramente para o grande público, eu sei, a gente não poderia esperar tanto aprumo ou ousadia.

Só pra não dizer que eu estou só descendo o sarrafo no coitado do filme. Afirmo que o filme TEM SIM muita coisa boa e aproveitável.

A gente pode olhar com certo interesse a ambientação parisiense meio expressionista e meio onírica, com casas e ruas retorcidas e rodeadas de neblina.

E, claro, todo mundo concorda que Bela Lugosi é um ótimo “entertainer”.

Ele sempre rouba a cena.

Aqui ele está interessante. Bem interessante.

Seu personagem, apesar de ser um vilão caricato (como de costume), tem um conceito ideológico interessante. É uma espécie darwinista maquiavélico, obcecado pela “evolução da vida” e pelo experimento.

No começo do filme, ele faz um discurso interessante sobre sua filosofia pessoal, que vai se evidenciar nos seus atos futuros – daria para extrair muito debate maneiro dessa caricatura.

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