Adorei o filme.
Primeira vez que assisti. Me perimito viajar um pouco nas impressões.
Se pudéssemos colocar 99% dos filmes americanos sobre ascensão e queda num gráfico, veríamos uma reta linear ascendente, onde queda e ascensão são pontos muito bem definidos.
Isso não quer dizer necessariamente que são filmes ruins. Rocky, que é um filmaço, é um caso típico dessa linearidade – no sentido “rise to glory”.
Em O Aviador, não temos essa reta ascendente que conhecemos, mas uma senóide, um gráfico composto por ondas (com cristas e vales) – onde as ascensões e quedas acontecem alternadamente.
O mais interessante aqui é que temos a impressão de que os tamanhos das cristas aumentam em proporção exata ao tamanho dos vales, de forma cada vez mais intensa.
O personagem Howard Hughes (brilhantemente interpretado por Leonardo Di Caprio), vai ascendendo em suas conquistas, misturando criatividade, agressividade e idealismo empreendedor (nesse aspecto, ele é quase um herói dos livros de Ayn Rand – suas audiências públicas confrontando de forma brilhante os membros do Estado parecem citações quase literais de livros como The Fountainhead), ao mesmo tempo que sua saúde mental vai sendo corroída por esgotamento, paranoia e o TOC (especificamente obsessão com limpeza – uma condição clínica MUITO séria).
Demolindo a bobagem da “pirâmide de Maslow”, Martin Scorsese apresenta o DRAMA do sujeito que estaria no topo (da auto-realização) – ou seja, o cara, além de sortudo, tem tudo o que desejou: é rico, interessante, autêntico e vive do seu sonho de infância (sua paixão extravagante por aviação) – mas não desfruta de uma felicidade íntegra, pois o agravamento da sua doença mental (que ironicamente acompanha suas realizações) é uma lembrança desagradável do refreamento fisiológico de sua condição, uma lembrança que o fetiche do “self-made man” americano nada pode contra o poder imperativo da natureza caso ela decida, em sua impiedosa aleatoriedade, te “presentear” com um distúrbio.