O livro A Nova Mente do Imperador, do físico Roger Penrose, premiado com o Nobel de Física em 2020,  propõe uma interessante reflexão sobre a mente humana, a inteligência artificial (IA) e as limitações (ou mesmo as impossibilidades) das máquinas em “replicar” a consciência humana.

Penrose desafia a visão predominante que viciou o debate público que pressupõe que a mente humana pode ser reduzida a processos computacionais.

Esse debate não é novo e já estava sendo gestado ha muito tempo e, até de forma compreensível, ele se estabeleceu na academa.

Historicamente, as máquinas ampliaram as capacidades humanas, permitindo, por exemplo, viajar rapidamente entre continentes ou explorar o espaço. Com a chegada dos computadores, surgiu a ideia de que a última fronteira seria a mente humana. Isso trouxe tanto esperança — de que os humanos poderiam se tornar “super-humanos” — quanto receio, de que as máquinas pudessem substituir os humanos.

Penrose critica a ideia de que as máquinas podem “pensar” ou “sentir” da mesma maneira que os seres humanos. As pessoas olham pra máquina e tentam atribuir nelas suas próprias características, quase como uma crise dissociativa.

Quando dizemos que uma máquina “pensa” ou “sente”, ou mesmo que inteligência artificial seja de fato “inteligência”, não nos damos conta que estamos tomando meras metáforas como descrições formais – e que as descrições formais que sustentam o argumento são falhas – como por exemplo a comparação do pensamento ao processo algorítimico de computadores.

Penrose prova que a consciência humana é um fenômeno não computacional, definindo o que é computabilidade e o que é consciência.

Penrose encerra seu livro adotando uma perspectiva provocadora: ele sugere que devemos adotar um “ponto de vista infantil” para compreender a consciência. Essa visão implica uma abordagem mais simples, sem as complicações excessivas que os adultos tendem a aplicar em questões tão complexas.

As crianças, em sua curiosidade natural, questionam de maneira direta coisas que os adultos evitam, como o que acontece com a consciência após a morte, ou qual é o propósito da vida. Penrose critica os vícios do debate público contemporâneo sobre a mente humana, que muitas vezes toma como base a falsa premissa para chegar a falsas conclusões.

Reflexões finais

Ao longo do livro, Penrose não tenta oferecer respostas definitivas, mas sim estimular uma reflexão crítica sobre a natureza da mente humana e suas relações com as máquinas. Ele sugere que a busca por entender a mente e a consciência requer uma abordagem mais ampla, que combine física, filosofia e biologia, sem recorrer a soluções simplistas ou reducionistas. Para ele, a verdadeira questão é mais filosófica e metafísica do que científica: como entendemos nossa própria existência e a natureza do universo? Ao final, Penrose sugere que devemos tentar olhar para esses mistérios com a curiosidade e a abertura de uma criança, dispostos a questionar até mesmo o que parece óbvio.

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