Quando resolvo assistir a um filme de terror americano dos anos 80, geralmente me divirto, seja achando-o ruim ou bom. Normalmente, o primeiro caso acontece, mas não desta vez. Silver Bullet, ou A Hora do Lobisomem em português, dirigido por Daniel Attias e roteirizado por Stephen King (sim, o homem), é um daqueles filmes realmente bons.
Um dos grandes pontos positivos deste filme é que ele assume um nível de violência raro até mesmo para a época. Aqui, nem mulheres grávidas nem crianças são poupadas, criando um estado de tensão mais elevado do que o normal e mostrando que o diretor tem menos escrúpulos.
Outro grande mérito do filme é sua economia e objetividade. Com apenas uma hora e meia de duração, ele realmente não perde tempo. Em menos de cinco minutos, estabelece o cenário, a ameaça e já apresenta a primeira cabeça voando pela tela.
A trama se passa na pequena cidade de Taker’s Mill, onde uma série de assassinatos violentos começa a ocorrer. Os moradores acreditam que um psicopata é o responsável pelas mortes, mas um garoto paraplégico de 11 anos chamado Marty descobre que o culpado é um lobisomem.
Não quero revelar muitos detalhes, pois este é um daqueles filmes onde a experiência se perde se você souber demais sobre o enredo.
O filme apresenta os elementos típicos das histórias de Stephen King: crianças, violência e muitos adultos alcoólatras. Boa parte do terror em suas obras reflete uma experiência biográfica, resultado do trauma de violência doméstica e abandono que ele sofreu (ou presenciou contra sua mãe) durante a infância, em uma pequena cidade em Nevada.
O arquétipo da cidade pequena acometida por uma violência brutal é um reflexo de sua própria vida, ou talvez uma expressão de sua vontade reprimida e inconsciente de se vingar do sofrimento que experimentou nesses lugares.
Além disso, nas obras de Stephen King, é comum encontrar uma certa antipatia por figuras de autoridade religiosa ou discursos religiosos. Isso é evidente em Carrie, A Colheita Maldita e também aqui, na figura do reverendo Lowe, interpretado por Everett McGill.
O filme também oferece uma interessante discussão sobre “justiça privada”, com um tom quase “libertário”, quando a comunidade, cansada de esperar que a polícia resolva os casos de assassinatos, decide se unir, pegar suas armas e enfrentar a criatura para fazer justiça com suas próprias mãos. Na cena que precede isso, há uma breve discussão política sobre o papel do Estado e o protagonismo civil no pátio de uma igreja — não há nada mais americano do que isso.
Enfim, Silver Bullet é um bom filme em vários sentidos que eu nunca imaginaria ser.