Nas religiões indo-europeias, nas religiões indianas e nas tradições védicas, especialmente no Rig Veda, a ascese está relacionada ao calor, frequentemente referida pelo termo “tapas”. Essa valorização do calor como um elemento ascético está ligada ao simbolismo do fogo como algo purificador, que sugere ascese. A percepção do fogo como divino também incorporou seus aspectos mais utilitários. O fogo aquece as noites frias, protege contra inimigos e se torna um elemento crucial de coesão social, sendo o ponto de encontro dos contadores de histórias durante a noite.
Ao redor do fogo, os alimentos eram preparados e cozidos, a pele se aquecia e as narrativas eram construídas. Quase instintivamente, o fogo foi colocado numa condição especial na memória humana. A projeção de sua fumaça, que saía da lareira na terra e ascendia aos céus, sugeria uma conexão entre o terreno e o celeste, entre o contingente e o eterno, entre o homem e os deuses.
Mircea Eliade afirma que o aquecimento ascético encontra seu modelo, ou homólogo, nas imagens, símbolos e mitos relacionados ao calor que “coze” as colheitas e choca os ovos, assegurando sua eclosão, à excitação sexual, especialmente o ardor do orgasmo, e ao fogo ateado pela fricção de duas varinhas de madeira.
Na percepção indiana, quando Prajapati cria, antes da criação, ele é acometido pelo calor ascético (o tapas) e, ao criar, em um momento simbolizado por uma combustão, logo se desfaz, tal como acontece com as coisas que pegam fogo no mundo físico. O esgotamento de Prajapati, para Eliade, também é assimilável à fadiga sexual.
Assim como o estado de excitação é gradativamente construído, o aquecimento ascético, o tapas, também possui suas preliminares. Essencialmente, o tapas é precedido por jejum, vigília ao pé do fogo ou exposição ao sol e, mais raramente, pela absorção de substâncias embriagantes.
Além do “aquecimento ascético”, temos o sempre presente sacrifício nesses rituais. Oferecem-se aos deuses o “soma”, uma antiga bebida estimulante que, segundo o Rigveda (livro sagrado), estava associada à imortalidade, manteiga derretida e o próprio fogo sagrado. Na prática, também ocorre o “sacrifício interior”, no qual as funções fisiológicas são transformadas em objetos rituais – como, por exemplo, a retenção da respiração, o que abre caminho para uma audaciosa homologação do ritual védico com as práticas da ioga.