O deus da criação na mitologia suméria é Enqui.
É interessante notar que o que entendemos como “deus criador” hoje é muito diferente do que se entendia nas mitologias antigas. A criação do mundo não era necessariamente relacionada ao “primeiro deus” e também não estava disposta numa categoria tão excepcional. Podemos entender que o que entendemos hoje como “criação”, depois da revelação bíblica, é uma versão mais expandida do que se entendia antes.
Em comparação à narrativa bíblica, o “deus criador” dos sumérios era muito mais parecido com Adão do que com o próprio Deus. Aliás, em ambas as narrativas fala-se muito do primeiro homem, o Homem (com “H” maiúsculo), do qual todos vieram depois – inclusive as mulheres. Podemos lembrar do curioso processo de “partenogênese” (muito comum em todas as mitologias), do qual saiu Eva, a Mulher (com “M” maiúsculo).
Faz sentido pensar que nas decorrências da criação a partir do Gênesis, temos a ideia de duas criações, onde na primeira um Deus cria um Homem, e na segunda, onde o Homem cria a humanidade.
Quando olho os registros cosmogônicos pagãos, percebo que eles partem majoritariamente dessa segunda criação, sendo que a primeira é ignorada ou entendida como um mistério insolúvel (para ser justo, é para nós também).
Segundo a mitologia suméria, Enqui criou os primeiros seres humanos, misturando argila com o sangue de um deus. Enqui também era o deus guardião dos dons da civilização, e podemos logo fazer fortes conexões com a narrativa grega, percebendo nele muitos elos de semelhanças com a figura de Prometeu, que também criou a humanidade com argila.
Prometeu, por sua vez, também se comunica com a figura de Adão, tanto na ideia da criação da humanidade quanto pela narrativa de desobediência, castigo e queda.
É interessante como as cosmogonias parecem confundir os personagens e, ainda assim, parecem contar exatamente a mesma história.