“Tales From the Loop” é uma série da Amazon Prime Video que estreou em abril de 2020. Sua autoria pertence a Nathaniel Halpern e a direção é compartilhada por uma seleção meticulosa de oito diretores, incluindo a renomada Jodie Foster.
A narrativa desvela as vidas interligadas dos habitantes da fictícia cidade de Mercer, Ohio, onde encontra-se o Mercer Center for Experimental Physics, uma instalação subterrânea conhecida como Loop.
Nesse ambiente subterrâneo, os cientistas se empenham em concretizar o que parece impossível.
A série ganhou notoriedade como o oposto de “Black Mirror”, já que não retrata a tecnologia de forma distópica; na verdade, a abordagem é completamente divergente. A conexão entre humanidade e tecnologia na trama é bastante amistosa, uma característica original, uma vez que considerações frequentes na ficção científica costumam ser pessimistas.
Esteticamente, “Tales from the Loop” constitui um dos elementos mais cativantes da televisão.
Cenários nostálgicos e minimalistas em ambientes domésticos, com lareiras, discos de vinil e televisores antigos, coexistem harmoniosamente com robôs no cenário exterior e objetos curiosamente suspensos no ar.
A tecnologia se insere quase como um pano de fundo, integrando-se de forma orgânica à rotina das pessoas, passando quase despercebida durante a trama, exceto por alguma estrutura metálica ao fundo ou um robô espreitando por trás de arbustos.
O universo da série não se impõe como uma distopia, ao contrário de “Brave New World” de Aldous Huxley. A tecnologia não é ameaçadora, mas sim simbiótica e quase invisível.
A abordagem tecnológica da série é pós-capitalista, onde o progresso científico não se traduz em bens de consumo que evoluem rapidamente ou estagnam ao longo do tempo.
É como se a sociedade tivesse transcendido o capitalismo sem recorrer a uma revolução violenta que causasse destruição. Os bens de consumo proporcionam apenas um conforto suficiente para a humanidade.
O estilo retrô não evoca a mesma ideia de pauperismo romântico de Cuba, mas sim a sofisticação do bucólico típico sueco de Stålenhag. A sociedade poderia ser altamente tecnológica como Tóquio, mas optou por adotar a aparência de uma aldeia sueca com internet 5G ou uma pequena localidade no Japão com máquinas de venda abastecidas de maneira impecável, todas essas comodidades inseridas fora da lógica capitalista.
A tecnologia nesse contexto se concentra em próteses, na busca por verdades universais e em descobertas que auxiliem a humanidade a compreender seu lugar no cosmos, no tempo e no espaço – basicamente, uma tentativa de extrair o possível do impossível.
O retrofuturismo da série, a fusão de passado, presente e futuro, não é mero exercício estético. Essa estética reforça um conceito que se alinha perfeitamente com os temas recorrentes dos episódios, em especial a relatividade do tempo.
Como em toda ficção científica de qualidade, “Tales from the Loop” usa a linguagem do gênero como plataforma para explorar discussões profundamente humanas e atemporais.
A ficção científica nessa série desempenha um papel quase exclusivamente moldador. As narrativas poderiam ser igualmente bem apresentadas em um contexto de fantasia mágica ou contos de fadas com nuances filosóficas.
Na minha perspectiva, essa série figura entre as principais produções do gênero de ficção científica na atualidade, juntamente com “Love, Death and Robots” (que abraça um aspecto mais clássico de distopia). Por outro lado, “Black Mirror” e “Electric Dreams” infelizmente ocupam patamares inferiores, apesar de possuírem potencial para serem excepcionais.
Cada aspecto de “Tales From the Loop” opera em perfeita harmonia – seja o enredo, a direção, a cinematografia, a belíssima trilha sonora composta por Phillip Glass e Paul Leonard-Morgan, ou o envolvente e estético conceito visual que resgata o universo retrofuturista de Simon Stalenhag, um artista sueco que reimagina o futuro sob uma perspectiva nórdica e rural. Nessa visão, a tecnologia avançada coexiste com um ambiente contemplativo de neve e silêncio.
Para quem busca uma experiência inovadora no mundo das séries, “Tales From the Loop” se apresenta como uma escolha excelente.