Filme dirigido por Hector Babenco e baseado no livro-reportagem “Infância dos Mortos” de José Louzeiro.

Trata-se de um evento muito singular no cinema brasileiro, onde ficção e realidade se entrelaçam.

A vida trágica do ator Fernando Ramos da Silva, protagonista do filme, é o principal eixo do espelho entre personagem e pessoa real.

Fernando viveu um personagem excepcional e, tempos depois, voltou a Diadema em um ambiente de miséria e precariedade, sendo morto pela polícia aos 19 anos.

Se ele entrou para o crime ou foi executado injustamente, até hoje não se sabe muito bem, mas como bem disse Roger Ebert no Chicago Sun-Times, isso é o que menos importa.

Desapegue-se da doxa (opinião). Não importa sua visão sobre a polícia, sobre a criminalidade, se a maioridade penal deve ser revista (sim, isso é discutido no filme), sobre o porte de armas ou se todos os delinquentes são vítimas da sociedade.

O filme (tal como a vida) não está conspirando para nos machucar ou nos acusar de qualquer coisa, nem quer nos ensinar algo. Vai por mim, você não é importante – muito menos sua eventual tomada de consciência.

Ele também não está tentando nos manter numa zona de conforto.

Se o filme tem um ponto, ele para mim está contido em uma única cena, aquela próxima do final, onde Pixote, depois de vomitar, se torna um bebê nos braços de Suely, uma prostituta que abortava todos os seus filhos.

Pixote, no meio da miséria, busca no peito de Suely aquilo que lhe faltou na vida, a própria mãe. Suely, por sua vez, oferece seu peito acenando que também necessitava experimentar a experiência redentora e sobrenatural da maternidade. Para mim, uma cena digna de Dostoiévski.

Em Pixote, somos convidados a contemplar continuamente um enquadramento hirto de uma realidade difícil ao mesmo tempo que nos abre o panorama da existência (ou possibilidade de existência) de um amor sobrenatural.

Pixote é assustadoramente honesto, brutalmente direto, politicamente ambíguo e poeticamente delicado sobre o hoje já manjado tema da criminalidade no cinema nacional.

Muito melhor do que tudo que veio depois.

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