Harmagedon: Genma Wars é um anime de ficção científica lançado em 1983, baseado no clássico mangá Genma Wars.

Essa animação se tornou conhecida por ser a “barriga de aluguel” que gestou e nutriu vários talentos que seriam mundialmente reconhecidos anos depois.

O filme foi dirigido por Rintarô (Shigeyuki Hayashi), cofundador da Madhouse, que mais tarde se tornaria famoso por sua obra Metropolis (2001), premiada no Festival de Cinema de Sitges, festival espanhol dedicado ao cinema de fantasia.

Como Genma Wars é um mangá de 1960, houve a necessidade de atualizar seu design para algo mais moderno. O redesign dos personagens ficou a cargo de ninguém menos que Katsuhiro Otomo, que acabara de lançar sua obra seminal Akira no ano anterior.

É importante ressaltar tanto a influência do mangá Genma Wars no trabalho de Katsuhiro Otomo quanto o impacto deste filme específico, que estimulou o mangaka a tomar uma das decisões mais importantes de sua carreira: transformar Akira em um filme de animação, o que aconteceria cinco anos após o lançamento de Genma Wars.

Genma Wars não só influenciou diretamente Akira, mas também Fireball e outras ideias e tramas que envolvem personagens com poderes psíquicos.

Se isso já não fosse suficiente, a música do filme foi composta pela lenda do rock progressivo inglês Keith Emerson (Emerson, Lake and Palmer), juntamente com a cantora californiana Rosemary Butler. A música dos créditos finais, Children of the Light, acabou se tornando um dos pontos mais marcantes do filme.

Harmagedon: Genma Wars foi o filme de anime de maior bilheteira de 1983 e o oitavo filme japonês de maior bilheteira da história até então, gerando uma robusta renda para todos os envolvidos. Pode-se dizer que, além de influenciar conceitualmente Akira, esse filme também ajudou a financiá-lo, juntamente com o anime Neo Tokyo de 1987.

A história segue de perto o enredo interessante do mangá, que relata a batalha entre os “defensores da Terra” e uma entidade demoníaca chamada “Genma”.

A trama é parcialmente inspirada no livro do Apocalipse da Bíblia e parcialmente no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, sendo uma fusão de ficção científica, aventura e horror cósmico.

O protagonista é Jo Azuma, um estudante japonês do ensino médio da década de 1970 que descobre ter poderes psíquicos. Ele é reunido por Veja, um guerreiro ciborgue alienígena, e Luna, a “princesa da Transilvânia”, que são os primeiros a descobrir que Genma está viajando para a Terra com a intenção de destruí-la.

Para detê-lo, Luna e Veja treinam Azuma e outros médiuns, com o objetivo de derrotar Genma e frustrar seus planos de destruição cósmica.

Essa foi a primeira vez que tive contato com Genma Wars, que, pelo que li, apesar de ser um mangá muito influente, tem sua história inacabada. Os detalhes da trama são complementados neste filme e em uma série de animação criada em 2002.

O que me chamou atenção é que, por trás de uma história básica que segue a clássica “jornada do herói”, há elementos claramente shakesperianos na narrativa.

Logo no começo do filme, vemos uma bruxa dançando no meio da cidade, cantando profecias de destruição.

Nas obras de William Shakespeare, as bruxas desempenham papéis significativos, explorando temas como destino, poder, manipulação e o sobrenatural. Em Macbeth, por exemplo, elas aparecem logo no início da peça e são responsáveis por profetizar o destino de Macbeth, o que desencadeia a trama central e coloca em perspectiva profética a tensão entre fatalismo e livre-arbítrio.

Foram esses elementos místicos, proféticos, religiosos e shakesperianos, misturados com os tropos de ficção científica psicodélica e kubrickiana, que definitivamente chamaram minha atenção na história. Com certeza vou atrás dos mangás originais.

A animação em si tem pontos positivos e alguns poucos negativos. Como é uma animação de 1983, algumas coisas soam datadas, como o movimento um tanto truncado e a falta de fluidez na animação, embora o trabalho de cores seja bem bonito.

O redesign de Katsuhiro Otomo deu mais corpo aos personagens, que parecem mais adultos do que o design original do mangá.

Enfim, adorei a animação e recomendo a todos que gostam de Akira que assistam a este filme.

Obs: o nome do filme é “Harmagedon” mesmo e não “Armagedon” (que seria o correto), não sei o motivo do “H” na frente.

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