Com muitas expectativas positivas, assisti ao filme Crimes of the Future (1970), um dos primeiros trabalhos de David Cronenberg e… infelizmente, não é bom.
A sinopse, se é que podemos chamá-la assim, gira em torno do jornalista Adrian Tripod, que está completamente imerso na investigação sobre a morte de quase todas as mulheres na Terra. Tripod descobre que essas mortes podem ter sido desencadeadas por um produto cosmético tóxico fabricado por uma empresa que também faz parte de uma rede internacional de prostituição infantil.
Não se engane, a sinopse é mais interessante que o filme. Crimes of the Future é extremamente confuso, moroso e divagante.
Isso não quer dizer que o filme não seja interessante. Ele é, de fato, bem interessante. Trata-se de um filme de ficção científica experimental – esquisito, na melhor definição da palavra.
O filme se passa todo em um espaço assustadoramente grande e vazio (a Universidade de Toronto), onde tudo é vertiginosamente moderno, minimalista e funcional. As atuações são não naturalistas, assim como a sonoplastia, que se baseia em ruídos e interferências.
Além disso, o filme possui um subtexto fetichista e é subliminarmente homossexual. E não, não estou forçando nada – apesar de estar nas entrelinhas, as sinalizações do filme são bastante evidentes.
Cronenberg, segundo sua biografia, cresceu assistindo a filmes de arte, como O Sétimo Selo, de Bergman, enquanto também se interessava por quadrinhos, revistas e livros de ficção científica, especialmente de Philip K. Dick. Com o tempo, desenvolveu um gosto peculiar pelo horror, e essa mistura de influências se refletiu em sua assinatura cinematográfica.
No entanto, aqui ainda não vemos o Cronenberg que conhecemos. Temos um cineasta inexperiente e pretensioso, tentando fingir profundidade ao emular o experimentalismo. Uma tentativa de parecer europeu (como se isso fosse bom).
A parte interessante, na verdade, é essa pretensão. Para mim, um artista deve ser pretensioso, sim. Deve querer se distanciar do mainstream. Deve ter pose e um olhar blasé. Acredito que muitos começam assim. Faz parte da maturidade ter sido, um dia, imaturo.
Nos seus primeiros filmes, como esse, tenho a impressão de estar assistindo a um Cronenberg em formação – tateando sua própria identidade e tentando traduzir suas influências em um único produto.
Crimes of the Future seria uma mistura experimental entre Bergman e George Lucas, mas sem a profundidade de um nem a capacidade de entretenimento do outro.