Amores Expressos (mais conhecido internacionalmente como Chungking Express) é um filme onde o atrativo está no estilo.
A primeira vez que eu assisti, já desconfiava que o estilo seria, de fato, o seu maior magnetismo. As imagens desse filme vieram a mim, e sempre achei elas interessantes.
Depois de assistir, esse filme — que já tinha uma predisposição a gostar — ficou ainda melhor. Constatei que as imagens e os estilos do filme são habilmente trabalhados em harmonia e ritmos perfeitos.
Sim, eu falei gêneros e não gênero, no singular.
Podemos dizer que Chungking Express é uma mistura de crime fiction, thriller, film noir, comédia dramática e, sem medo de ser feliz, uma comédia romântica.
Não vou me alongar muito na história do filme. Aliás, nas histórias, no plural. São duas narrativas contadas em sequência aqui.
Não vou especificar o que acontece exatamente em cada uma delas, mas ambas envolvem policiais de Hong Kong tentando lidar com as dores de um término recente, enquanto, aos poucos, se apaixonam novamente por figuras excêntricas que encontram ocasionalmente.
Achou isso muito específico? Pois é. Eu também — e esse é, talvez, o grande trunfo narrativo deste filme: uma ideia específica que transborda não apenas no argumento, mas nos detalhes.
Cada detalhe específico do filme possui uma projeção de significados amplificados: desde a música California Dreamin’ tocando no mais alto volume dentro de uma lanchonete até as latas de abacaxi com vencimento no dia primeiro de maio.
Assistam ao filme, e essas informações aparentemente aleatórias vão ficar mais claras.
Todos os detalhes do filme, mesmo aqueles que estão fora do foco, contribuem para a construção de sua atmosfera paradoxal de “caos contemplativo”.
Eu fiquei prestando atenção nos objetos e na interação dos personagens com as coisas: os utensílios domésticos, de cozinha, banheiro, um avião de brinquedo, panelas, panos, cartas, aquário, um jacaré de pelúcia — todos esses objetos amontoados são promovidos a personagens auxiliares do filme. Como bem diz o personagem principal, “as toalhas que pingam na varanda choram, e as garrafas vazias lhe são confidentes”.
Tudo nesse filme parece evocar bagunça e solidão, ao mesmo tempo que decorre de maneira adorável.
Não é um filme construído com grandes conflitos, mas no acúmulo de pequenos, dentro da bagunça e da sujeira paradoxalmente charmosa de Hong Kong.