Fritz Leiber
Taverna do Lugar Nenhum » Fritz Leiber
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Ekaterina "Miss KGB" Mayorova ...
📺 ...
Boris Orlov ...
REFLEXÕES MACHADIANAS DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS
A morte de Viegas, em Memórias Póstumas de Brás Cubas (capítulo 89), traz de volta a ironia característica de Machado de Assis diante das questões mais sensíveis do ser humano e das próprias conclusões alcançadas pelo narrador.
Tempos atrás, eu comentei que o “momento da morte” — que não é a morte em si, condição do narrador — é, de fato, o momento dramático. A morte seria a carta de alforria do homem, libertando-o do cativeiro da vida e permitindo-lhe comentar sobre ela sem as preocupações mundanas, como escândalos e reputações.
No entanto, o que Brás Cubas faz ao longo de todo o romance é constantemente se corrigir. Ele reflete sobre a vida, a morte, o estilo literário, o leitor e até mesmo sobre os capítulos anteriores, acrescentando novas nuances — o que torna sua narrativa ainda mais interessante.
O momento da morte é um momento de severidade, mas não necessariamente de transformação.
Viegas, parente de Virgília, foi um homem avaro, doente e sovina que, em seus últimos momentos de vida, em vez de se preocupar com o destino de sua alma ou chamar um padre para receber a extrema-unção, morre entre tosses durante uma negociação de propriedade.
Sua vigília foi acompanhada por um comprador de imóveis, que insistia em negociar a posse por menos de 40 contos. Suas últimas palavras, antes de expirar, foram: “qua… quaren.. quar… quar”.
Poucas páginas na literatura até então haviam tratado a morte com tamanha banalidade, desconstruindo a falsa impressão de uma sacralidade necessária. Como se toda morte fosse, inevitavelmente, a morte de um mártir.
Esse memento mori machadiano alerta para o fato de que não se deve confiar na ideia de que, em seus últimos minutos, você será abençoado com a catarse, a contrição ou a consciência redentora de São Dimas (o bom ladrão). Não espere que, no momento derradeiro, você se lembrará do céu — é provável que suas últimas palavras sejam tão patéticas e mesquinhas quanto “qua… quaren.. quar… quar”.
Boa Quarta-Feira de Cinzas a todos.
Mar 5
REFLEXÕES MACHADIANAS DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS
A morte de Viegas, em Memórias Póstumas de Brás Cubas (capítulo 89), traz de volta a ironia característica de Machado de Assis diante das questões mais sensíveis do ser humano e das próprias conclusões alcançadas pelo narrador.
Tempos atrás, eu comentei que o “momento da morte” — que não é a morte em si, condição do narrador — é, de fato, o momento dramático. A morte seria a carta de alforria do homem, libertando-o do cativeiro da vida e permitindo-lhe comentar sobre ela sem as preocupações mundanas, como escândalos e reputações.
No entanto, o que Brás Cubas faz ao longo de todo o romance é constantemente se corrigir. Ele reflete sobre a vida, a morte, o estilo literário, o leitor e até mesmo sobre os capítulos anteriores, acrescentando novas nuances — o que torna sua narrativa ainda mais interessante.
O momento da morte é um momento de severidade, mas não necessariamente de transformação.
Viegas, parente de Virgília, foi um homem avaro, doente e sovina que, em seus últimos momentos de vida, em vez de se preocupar com o destino de sua alma ou chamar um padre para receber a extrema-unção, morre entre tosses durante uma negociação de propriedade.
Sua vigília foi acompanhada por um comprador de imóveis, que insistia em negociar a posse por menos de 40 contos. Suas últimas palavras, antes de expirar, foram: “qua… quaren.. quar… quar”.
Poucas páginas na literatura até então haviam tratado a morte com tamanha banalidade, desconstruindo a falsa impressão de uma sacralidade necessária. Como se toda morte fosse, inevitavelmente, a morte de um mártir.
Esse memento mori machadiano alerta para o fato de que não se deve confiar na ideia de que, em seus últimos minutos, você será abençoado com a catarse, a contrição ou a consciência redentora de São Dimas (o bom ladrão). Não espere que, no momento derradeiro, você se lembrará do céu — é provável que suas últimas palavras sejam tão patéticas e mesquinhas quanto “qua… quaren.. quar… quar”.
Boa Quarta-Feira de Cinzas a todos.
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Besourosuco ...
**Akina Nakamori - Variation (1982)**
Eu ia comentar sobre a música, mas, na verdade, só tenho uma coisa a dizer: DRIP.
Mar 4
**Akina Nakamori - Variation (1982)**
Eu ia comentar sobre a música, mas, na verdade, só tenho uma coisa a dizer: DRIP.
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É assim que se começa um filme ...
Visible Secret é um filme de terror sobrenatural de Hong Kong, lançado em 2001 e dirigido por Ann Hui, uma das principais expoentes da Nova Onda de Hong Kong.
Não vou me alongar muito na sinopse, pois corri o risco de, acidentalmente, revelar mais do que deveria.
No entanto, posso adiantar que, para quem ainda não viu ou não leu sobre o enredo, o filme gira em torno de fantasmas, sensitivismo e amor.
Acho que poucas ideias são tão interessantes visualmente quanto ambientar um filme de fantasmas em uma cidade como Hong Kong. Sua peculiar decadência urbana, ao mesmo tempo fotogênica, transmite uma sensação inebriante de sonho e pesadelo.
Meu Deus, que cidade incrível e que cenário apropriado para essa incursão. Hong Kong é a cidade mais bonita do mundo que eu nunca gostaria de morar.
Ela parece estar, simultaneamente, presa entre duas ideias: a colisão política do capitalismo com o socialismo, sendo distopicamente ocidental e distopicamente chinesa ao mesmo tempo – um cenário de neon, sujeira e ferrugem que é, inexplicavelmente, elegante.
É exatamente nesse cenário incerto, que parece perdido entre dois mundos, que a diretora também constrói a história de dois mundos que se entrelaçam: o mundo dos vivos e o mundo dos fantasmas.
Eles estão por aí, nos trens e nas ruas, te perseguindo.
Toda a composição visual do filme valoriza as cores saturadas, o trabalho cuidadoso de luz e sombra, e uma capacidade improvável de criar uma sensação de claustrofobia, até mesmo em ambientes abertos.
O filme tem uma certa dose de humor pastelão que, na minha opinião, não tem necessariamente a intenção de provocar risos, mas sim de reforçar o aspecto bizarro da história.
No entanto, por baixo de todo esse caos, há uma história de amor e drama que vai se desenhando aos poucos e se colocando em destaque. Não percebi isso de imediato, mas, após o filme terminar, comecei a refletir sobre ele.
Quando o amor e o drama emergem, o terror, o mistério e até a comédia do filme acabam ficando em segundo plano. Muito além da curiosidade pelas situações anormais e bizarras, os próprios personagens principais se tornam o centro da atenção.
⭐⭐⭐⭐
Mar 3
Visible Secret é um filme de terror sobrenatural de Hong Kong, lançado em 2001 e dirigido por Ann Hui, uma das principais expoentes da Nova Onda de Hong Kong.
Não vou me alongar muito na sinopse, pois corri o risco de, acidentalmente, revelar mais do que deveria.
No entanto, posso adiantar que, para quem ainda não viu ou não leu sobre o enredo, o filme gira em torno de fantasmas, sensitivismo e amor.
Acho que poucas ideias são tão interessantes visualmente quanto ambientar um filme de fantasmas em uma cidade como Hong Kong. Sua peculiar decadência urbana, ao mesmo tempo fotogênica, transmite uma sensação inebriante de sonho e pesadelo.
Meu Deus, que cidade incrível e que cenário apropriado para essa incursão. Hong Kong é a cidade mais bonita do mundo que eu nunca gostaria de morar.
Ela parece estar, simultaneamente, presa entre duas ideias: a colisão política do capitalismo com o socialismo, sendo distopicamente ocidental e distopicamente chinesa ao mesmo tempo – um cenário de neon, sujeira e ferrugem que é, inexplicavelmente, elegante.
É exatamente nesse cenário incerto, que parece perdido entre dois mundos, que a diretora também constrói a história de dois mundos que se entrelaçam: o mundo dos vivos e o mundo dos fantasmas.
Eles estão por aí, nos trens e nas ruas, te perseguindo.
Toda a composição visual do filme valoriza as cores saturadas, o trabalho cuidadoso de luz e sombra, e uma capacidade improvável de criar uma sensação de claustrofobia, até mesmo em ambientes abertos.
O filme tem uma certa dose de humor pastelão que, na minha opinião, não tem necessariamente a intenção de provocar risos, mas sim de reforçar o aspecto bizarro da história.
No entanto, por baixo de todo esse caos, há uma história de amor e drama que vai se desenhando aos poucos e se colocando em destaque. Não percebi isso de imediato, mas, após o filme terminar, comecei a refletir sobre ele.
Quando o amor e o drama emergem, o terror, o mistério e até a comédia do filme acabam ficando em segundo plano. Muito além da curiosidade pelas situações anormais e bizarras, os próprios personagens principais se tornam o centro da atenção.
⭐⭐⭐⭐
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