Místicos em Bali, ou Mistik (Punahnya Rahasia Ilmu Iblis Leak), também conhecido como Leák, é um filme de horror folclórico indonésio de 1981, dirigido por Tjut Djalil e baseado no romance Leák Ngakak de Putra Mada.

No filme, acompanhamos uma antropóloga americana chamada Cathy, que viaja para Bali para pesquisar sobre magia negra e acaba se tornando discípula de uma bruxa local.

O filme, obviamente, tem suas limitações, não apenas em relação aos efeitos especiais (embora alguns eu ainda considere bons), mas também nas atuações, que são bastante amadoras.

No entanto, nada disso torna o filme menos interessante para mim, especialmente porque ele incorpora muitos elementos do folclore do Sudeste Asiático.

Em particular, o mito do Penanggalan (ou Krasue, em outras culturas), um espírito feminino noturno com comportamentos vampíricos, que se manifesta na forma grotesca de uma cabeça flutuante com órgãos internos ainda presos e pendurados pelo pescoço.

Sua história ou particularidades podem ter variações mínimas, pois o mito é conhecido em diversos países além de Bali, como Tailândia, Camboja, Laos, Indonésia, Malásia, Singapura, Filipinas, Mianmar e Vietnã.

Na cultura balinesa, que é o foco deste filme, essa entidade está relacionada às bruxas, que tinham comportamento canibal e eram conhecidas por atacar mulheres grávidas, especialmente aquelas prestes a dar à luz, para sugar o sangue dos recém-nascidos e se manterem jovens. Essas bruxas, geralmente velhas, são expulsas da comunidade a mando dos sacerdotes e vivem isoladas na floresta.

Mesmo quem nunca leu nada sobre a cultura balinesa pode perceber ali muitos tropos que, eu diria, são quase universais nas religiões. Que a perseguição às bruxas acontecia em todas as sociedades, isso eu já sabia (dizer que os cristãos puritanos em Salem inventaram isso é simplesmente falso), mas me surpreende que a própria descrição física delas seja similar: é sempre uma velha, louca, ressentida, deformada e que mata crianças.

Outra coisa universal é o medo ancestral da mulher da noite, a figura vampírica que surge na janela e, de uma forma paradoxalmente horripilante e erótica, suga a vida — esse mito existe em todos os lugares, do Japão à Romênia.

Mesmo com os tropos similares, Mistik consegue ser único por reforçar e acentuar seu rico aspecto étnico, não apenas no cenário de templos milenares com suas esculturas de bocas abertas, mas também nos aspectos puramente étnicos e culturais que são inescapáveis até mesmo na construção da narrativa.

Todos sabem que o melhor do horror folclórico é muito conhecido e admirado nos Estados Unidos e, principalmente, na Inglaterra.

No entanto, essas sociedades se modernizaram muito e, normalmente, o horror folclórico nesses países assume uma pungência romântica da tensão entre o racionalismo iluminista, o puritanismo protestante e um resgate do catolicismo medievalesco (como em Witchfinder General) ou do paganismo (como em The Wicker Man).

Bali, por sua vez, não foi uma sociedade que se modernizou como os Estados Unidos e a Inglaterra. Logo, sua manifestação folclórica no horror não surge como uma reação, mas como uma manifestação condizente com o “de sempre” daquele lugar, uma expressão orgânica e familiar dos templos de pedra, dos matagais sombrios e dos velhos contadores de histórias de pés descalços.

Tudo evoca a beleza primitiva das religiões paleolíticas: as iniciações de sangue, os objetos sagrados, os sigilos e os rituais secretos. Pode parecer um tanto estranho, mas é um prato cheio para quem está lendo Mircea Eliade.

Embora os diálogos sejam muito simples e as premissas do filme sejam bastante básicas, há um teor de tradicionalidade que seria muito difícil de reproduzir sendo um ocidental moderno.

Abaixo, 10 minutos de cenas do filme:

Newsletter

Recomendado

Podcast Recente

Rolar para cima