Uma das coisas que mais me fascinou na série ‘Xogum: A Saga Gloriosa do Japão’ (2024, Star) foi o relacionamento de Mariko com Anjin-san (ou Jack Blackthrone).
É muito mais interessante do que um simples caso amoroso, como geralmente vemos nas séries atualmente.
A atração entre os dois parece refletir mais do que apenas dois indivíduos, mas sim uma busca por complementaridade entre Oriente e Ocidente.
Anjin-san, representando o Ocidente, busca liberdade na afirmação de sua individualidade, expandindo-a em sua ambição. É isso que o leva em direção à exploração e às conquistas.
Foi isso que o tirou de Londres e o levou até Osaka.
Mariko, representando o Oriente, busca liberdade ao se libertar de si mesma e ao diluir sua individualidade em deveres e cerimônias. Para ela, se a libertação de si mesma significar a libertação de sua própria felicidade, ou mesmo de sua própria vida, ela estaria disposta a aceitar.
A relação de Anjin-san com sua vida também é típica de seu perfil. O inglês possui uma racionalidade científica e industriosa, tentando submeter a realidade aos seus próprios caprichos.
O mar torna-se o seu caminho.
Foi muito significativo escolher um ator com olhos azuis, e isso ser percebido por Mariko com curiosidade e admiração.
No Japão, a natureza é indomável. O mar é instável e às vezes se projeta na ilha, devastando milhares de vidas.
Mariko diz que, assim como não pode escolher quando e com qual intensidade um terremoto irá devastar uma vila, não podemos nos permitir o luxo de nossas insignificantes vontades.
É ainda mais significativo que ambos sejam cristãos. Enquanto um reivindica a liberdade de escolha e o livre-arbítrio, o outro reivindica a obediência às circunstâncias e à providência.
São duas perspectivas que podem se unir em conflito e interdependência.
Além disso, é um belo casal e achei uma ótima ideia um interpretar o outro na história.
Sim, é uma novelinha dentro da série, mas uma novelinha bem elaborada. Já fazia tempo que não me envolvia tanto com uma novelinha desse tipo.