Reflexões Filosóficas
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Keep Rolling (Lim-Chung Man)
⭐⭐⭐⭐⭐
Eu não sou bom em contar histórias, nem em criar coisas — mas sou muito bom em admirar quem o faz.
Keep Rolling é o filme que eu teria feito.
Trata-se de um documentário e uma homenagem a uma das cineastas mais influentes de Hong Kong: Ann Hui. Ela foi precursora da New Wave de Hong Kong, um movimento que, no contexto do cinema asiático, tem uma importância comparável à da New Hollywood no cinema norte-americano.
O documentário percorre os quarenta anos de carreira de Hui, revelando um testemunho inequívoco de uma vida dedicada ao cinema.
Uma das coisas mais interessantes sobre sua obra é a constante busca por identidade. Fiquei muito, mas muito satisfeito em perceber que minhas impressões sobre a cineasta coincidem com os comentários feitos por ela mesma no filme.
Sempre vi o cinema de Hong Kong como algo profundamente metamórfico. E Ann Hui também. Meu Deus, eu quero ser amigo dela.
Hong Kong não é Ocidente, não é Oriente e também não é uma simples síntese dos dois. Hong Kong é, ao mesmo tempo, Ocidente e Oriente em seus extremos.
A carreira tumultuada de Hui se confunde com sua vida pessoal — igualmente tumultuada — e com sua jornada íntima por essa cidade que ama.
Este filme biográfico mergulha no mundo idiossincrático da diretora aclamada, revelando suas inquietações e estranhezas, mas também suas preocupações profundamente humanísticas com os “Joões Ninguém” de Hong Kong, que encontra nos mercados, lojas de conveniência, feiras e aeroportos.
Sua obra é tão real e honesta que chega a ser palpável.
Além disso, Ann Hui é uma figura trágica e, ao mesmo tempo, extremamente engraçada. Uma espécie de Fran Lebowitz.
Achei lindíssimo o foco deram à sua relação com a mãe, suas reflexões sobre a velhice e até ao simples hábito de fumar.
Tudo que vejo nela falta em muitas diretoras ocidentais — como, por exemplo, o completo desprezo que ela demonstra pelo rótulo de “feminista”. Não pelo movimento em si, mas por ser uma redução absurda de sua identidade. Ela odeia ser chamada de “diretora mulher”, pois entende isso como um recorte desnecessário. Se for rotular ela numa identidade, faça assim: uma cineasta de Hong Kong.
Abr 21
Keep Rolling (Lim-Chung Man)
⭐⭐⭐⭐⭐
Eu não sou bom em contar histórias, nem em criar coisas — mas sou muito bom em admirar quem o faz.
Keep Rolling é o filme que eu teria feito.
Trata-se de um documentário e uma homenagem a uma das cineastas mais influentes de Hong Kong: Ann Hui. Ela foi precursora da New Wave de Hong Kong, um movimento que, no contexto do cinema asiático, tem uma importância comparável à da New Hollywood no cinema norte-americano.
O documentário percorre os quarenta anos de carreira de Hui, revelando um testemunho inequívoco de uma vida dedicada ao cinema.
Uma das coisas mais interessantes sobre sua obra é a constante busca por identidade. Fiquei muito, mas muito satisfeito em perceber que minhas impressões sobre a cineasta coincidem com os comentários feitos por ela mesma no filme.
Sempre vi o cinema de Hong Kong como algo profundamente metamórfico. E Ann Hui também. Meu Deus, eu quero ser amigo dela.
Hong Kong não é Ocidente, não é Oriente e também não é uma simples síntese dos dois. Hong Kong é, ao mesmo tempo, Ocidente e Oriente em seus extremos.
A carreira tumultuada de Hui se confunde com sua vida pessoal — igualmente tumultuada — e com sua jornada íntima por essa cidade que ama.
Este filme biográfico mergulha no mundo idiossincrático da diretora aclamada, revelando suas inquietações e estranhezas, mas também suas preocupações profundamente humanísticas com os “Joões Ninguém” de Hong Kong, que encontra nos mercados, lojas de conveniência, feiras e aeroportos.
Sua obra é tão real e honesta que chega a ser palpável.
Além disso, Ann Hui é uma figura trágica e, ao mesmo tempo, extremamente engraçada. Uma espécie de Fran Lebowitz.
Achei lindíssimo o foco deram à sua relação com a mãe, suas reflexões sobre a velhice e até ao simples hábito de fumar.
Tudo que vejo nela falta em muitas diretoras ocidentais — como, por exemplo, o completo desprezo que ela demonstra pelo rótulo de “feminista”. Não pelo movimento em si, mas por ser uma redução absurda de sua identidade. Ela odeia ser chamada de “diretora mulher”, pois entende isso como um recorte desnecessário. Se for rotular ela numa identidade, faça assim: uma cineasta de Hong Kong.
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@wafers3d ...
Yoshiko Sai é a artista que mais gostei de descobrir nos últimos anos e, por uma maldição babélica, também a mais difícil de encontrar informações.
Ela é uma espécie de rainha na cena psicodélica japonesa dos anos 1970, mas nenhum de seus trabalhos parece ter chegado até aqui, nem mesmo em versão "romanjizada". Você pode ouvir seus discos no Spotify procurando por 佐井 好子.
Este é o seu quarto e último álbum, lançado em 2008. O terceiro havia sido lançado 30 anos antes, em 1978.
Ela retornou como se nada tivesse acontecido. Trinta anos são um sopro.
Nesse meio-tempo, Yoshiko aprendeu a pintar — e esta capa linda foi feita por ela mesma.
E continua com aquela voz maravilhosa.
A crítica completa do disco está neste link:
https://tavernadolugarnenhum.com.br/resenha/taklamakan/
Abr 19
Yoshiko Sai é a artista que mais gostei de descobrir nos últimos anos e, por uma maldição babélica, também a mais difícil de encontrar informações.
Ela é uma espécie de rainha na cena psicodélica japonesa dos anos 1970, mas nenhum de seus trabalhos parece ter chegado até aqui, nem mesmo em versão "romanjizada". Você pode ouvir seus discos no Spotify procurando por 佐井 好子.
Este é o seu quarto e último álbum, lançado em 2008. O terceiro havia sido lançado 30 anos antes, em 1978.
Ela retornou como se nada tivesse acontecido. Trinta anos são um sopro.
Nesse meio-tempo, Yoshiko aprendeu a pintar — e esta capa linda foi feita por ela mesma.
E continua com aquela voz maravilhosa.
A crítica completa do disco está neste link:
https://tavernadolugarnenhum.com.br/resenha/taklamakan/
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getsemani [2] ...
getsemani ...
PAIXÃO ...
No primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição, a personagem Lívia encarna a perfeita tradução da musa.
A obra situa-se entre o Romantismo e o Realismo, e é justo que Lívia condense o melhor de ambos os mundos: não o idealismo imaterial e ascético do romântico, nem a vulgaridade cínica do realista.
A mulher real — assim como o homem real — é imaterial e material; é espírito e corpo. E, sendo corpo, pode ser bela ou não. Lívia era bela — e essa é a primeira de suas características essenciais. Importante? Não: essencial. Que me perdoem as menos favorecidas pela natureza, mas, se a graça não lhes bastar, como dizia o velho Olavo, que ao menos a bondade e a simpatia lhes sirvam de substituto.
Em Lívia, o “corpinho apertado” delineava os “contornos delicados e graciosos do busto”; nela, via-se “ondular ligeiramente o seio túrgido” — uma sensualidade “comprimida pelo cetim”.
No entanto, a beleza é uma armadilha para as mulheres bonitas. Não raro, elas reduzem sua identidade a essa única qualidade — como se lhes bastasse. Mas a beleza não apenas perece: antes de fenecer, também enjoa.
Lívia, porém, realçava sua beleza com um “sentimento de modesta consciência de suas graças”, algo que Machado comparava à “tranquilidade da força”. Confiante, mas não cega a ponto de crer que a beleza resolvesse todas as contradições. Nenhum gesto seu revelava “amor próprio”. Não fingia desconhecer seu próprio encanto — isso seria mentira, “coisa do diabo” —, mas acreditava que, “se a natureza se esmerara com ela, era por uma razão de harmonia e ordem nas coisas terrestres”. Afear-se lhe parecia um crime; orgulhar-se, frivolidade.
Afinal, não há mérito em ser bela — apenas sorte. Se o é, que agradeça a Deus.
Mas Lívia não era apenas bela: era jovem e viúva. Experimentara cedo o drama da morte — não como abstração filosófica, não como “existencialismo pedante” capaz de afogá-la em um mar de opiniões e “senso crítico” esterilizante. Sabia que a morte doía e que o tempo atenuava a dor. Consciente do que realmente importava, ainda assim sonhava: queria viajar para a Itália e a Alemanha, ver o Arno e o Reno para, então, redescobrir a Guanabara.
Abr 18
No primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição, a personagem Lívia encarna a perfeita tradução da musa.
A obra situa-se entre o Romantismo e o Realismo, e é justo que Lívia condense o melhor de ambos os mundos: não o idealismo imaterial e ascético do romântico, nem a vulgaridade cínica do realista.
A mulher real — assim como o homem real — é imaterial e material; é espírito e corpo. E, sendo corpo, pode ser bela ou não. Lívia era bela — e essa é a primeira de suas características essenciais. Importante? Não: essencial. Que me perdoem as menos favorecidas pela natureza, mas, se a graça não lhes bastar, como dizia o velho Olavo, que ao menos a bondade e a simpatia lhes sirvam de substituto.
Em Lívia, o “corpinho apertado” delineava os “contornos delicados e graciosos do busto”; nela, via-se “ondular ligeiramente o seio túrgido” — uma sensualidade “comprimida pelo cetim”.
No entanto, a beleza é uma armadilha para as mulheres bonitas. Não raro, elas reduzem sua identidade a essa única qualidade — como se lhes bastasse. Mas a beleza não apenas perece: antes de fenecer, também enjoa.
Lívia, porém, realçava sua beleza com um “sentimento de modesta consciência de suas graças”, algo que Machado comparava à “tranquilidade da força”. Confiante, mas não cega a ponto de crer que a beleza resolvesse todas as contradições. Nenhum gesto seu revelava “amor próprio”. Não fingia desconhecer seu próprio encanto — isso seria mentira, “coisa do diabo” —, mas acreditava que, “se a natureza se esmerara com ela, era por uma razão de harmonia e ordem nas coisas terrestres”. Afear-se lhe parecia um crime; orgulhar-se, frivolidade.
Afinal, não há mérito em ser bela — apenas sorte. Se o é, que agradeça a Deus.
Mas Lívia não era apenas bela: era jovem e viúva. Experimentara cedo o drama da morte — não como abstração filosófica, não como “existencialismo pedante” capaz de afogá-la em um mar de opiniões e “senso crítico” esterilizante. Sabia que a morte doía e que o tempo atenuava a dor. Consciente do que realmente importava, ainda assim sonhava: queria viajar para a Itália e a Alemanha, ver o Arno e o Reno para, então, redescobrir a Guanabara.
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épico ...
DRIP
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Fra Angelico - Cristo coroado de espinhos e ornamentado com ouro e sangue. Dramática, violenta e exagerada; do jeito que eu gosto.
Abr 18
Fra Angelico - Cristo coroado de espinhos e ornamentado com ouro e sangue. Dramática, violenta e exagerada; do jeito que eu gosto. ...
After Hours (1985); Unique Martin Scorsese Moment. ...