Mais um ótimo filme desconhecido do Scorsese.
Aqui ele explora a vida de Frank Pierce (Nicolas “Deus” Cage), um paramédico de plantões noturnos em Nova York que está sempre a beira de um colapso nervoso (Nicolas Cage tem os melhores colapsos nervosos da história do cinema mundial), tendo que lidar com a insônia, visões espirituais e solidão.
Se vocês perceberem, o filme é uma espécie de reimaginação de Taxi Driver.
Além do perfil psicológico maníaco-depressivo do personagem principal, temos escolhas cinematográficas fazendo quase citação direta ao filme de 76.
Nos créditos iniciais, vemos os olhos do protagonista sendo iluminados por luzes vermelhas de uma sirene.
Dentro de sua ambulância, seu olhar percorre voyeristicamente gangues, prostitutas, mendigos e toda fauna pecaminosa dos subúrbios nova-iorquino.
Isso tudo está presente em Taxi Driver.
Outras características scorseseanas no filme se realçam: a anatomia de Nova York, o estudo de personagem e uma trilha sonora formada por uma coletânea refinada de músicas pops que Scorsese curte (especialmente Blues e Rock and Roll).
Mas o que eu achei bom mesmo no filme é o humor – e é aqui que ele se distancia de Taxi Driver.
O filme é uma vitrine de tragédias humanas salpicadas de humor negro.
O humor negro cumpre uma função extremamente necessária removendo das tragédias o seu natural amargor melancólico (sem desrespeitá-lo) imprimindo no lugar uma vitalidade que nos impulsiona a seguir em frente.
A justaposição do elemento mórbido ao elemento burlesco é uma terapia comprovadamente eficaz na superação de traumas.
É bom lembrar isso, especialmente hoje em dia, em tempos onde o politicamente correto é a norma e as pessoas se lançaram numa cruzada orwelliana contra o humor.
Neste filme, temos situações hilárias envolvendo a miséria humana: overdose, ataques cardíacos, tiroteios, facadas e tentativas de suicídio.
Em suma, RI PRA CARALEO.
Embora o filme tenha alguma inconsistência ou outra, o saldo geral é bem satisfatório.