O álbum “Trans Europa Express” é o sexto trabalho do Kraftwerk, gravado em meados de 1976 em Düsseldorf e lançado em 1977.
Este disco marca mais um passo do Kraftwerk no distanciamento do Krautrock para um formato mais melódico e eletrônico.
Trata-se de um álbum caracterizado por temas melódicos que são repetidos várias vezes e interligados pontualmente com ritmos deliberados e vozes manipuladas, além de ritmos minimalistas e mecanizados.
Segundo os membros da banda, o Kraftwerk foi influenciado pela música popular da República de Weimar, pelo cinema da década de 20, pela música clássica pós-moderna de Karlheinz Stockhausen e pelos Ramones (sim, Ramones).
O conceito do disco foi inspirado no Trans Europ Express (TEE), um serviço ferroviário internacional criado em 1957 que percorria toda a Europa Ocidental. No auge de suas operações, em 1974, a rede TEE compreendia 45 trens, conectando 130 cidades diferentes, da Espanha, no oeste, à Áustria, no leste, e da Dinamarca, no norte, ao sul da Itália.
A ideia desse conceito foi própria de um departamento de “relações públicas” – ao mesmo tempo que escondia uma tiração de sarro com algumas polêmicas que foram anexadas ao grupo.
O Kraftwerk chegou a ser associado ao nazismo no Reino Unido e nos Estados Unidos. Essa associação começou em “Autobahn”, que era uma homenagem à construção das autoestradas federais alemãs nas décadas de 1930 e 1940. Somado a isso, havia um certo apelo estético que bebia muito da fonte do fascismo (monumentalismo, simetria) – algo que David Bowie e até Pink Floyd já sofreram (aliás, Roger Waters até hoje sofre com isso).
No começo, isso não era algo que preocupava o grupo, aliás, era uma das críticas mais sem sentido que poderiam fazer à banda. No entanto, a neutralidade da banda em relação a temas políticos já estava incomodando.
Diferente de Autobahn, o conceito simbolizado pelo Trans Europ Express trouxe, de forma sutil, um novo sentimento de identidade europeia.
O disco possui, na verdade, dois temas distintos. O primeiro trata da disparidade entre a “realidade” e a “imagem”, representado nas músicas “The Hall of Mirrors” e “Showroom Dummies”. O segundo tema aborda a glorificação da Europa ou, como descrito pela revista Slant, é “um poema sonoro para a Europa”.
Em suma, ainda motivado pelo cinismo do Radio-Activity, o grupo tentava, ao mesmo tempo, criar um conceito de identidade europeia e romper com o próprio conceito de identidade.
Quanto mais eu aprendo sobre essa banda, mais eu admiro.