Rashômon é um filme de 1950, dirigido por Akira Kurosawa, com roteiro de Shinobu Hashimoto e do próprio diretor, baseado em dois contos de Ryūnosuke Akutagawa (“Rashomon” e “Yabu no Naka”).
A história se passa no Japão do século XI e temos como personagens principais um lenhador, um camponês e um sacerdote que se abrigam de uma forte tempestade nas ruínas do Portão de Rashomon.
O Portão de Rashomon é uma estrutura histórica localizada em Kyoto. O portão pertencia ao antigo Palácio Imperial, construído no século VIII, e era uma das principais entradas do palácio.
De acordo com a história de Ryunosuke Akutagawa, o Portão de Rashomon foi abandonado e se tornou um local de encontro para criminosos e desabrigados.
Com a chuva demora para passar o sacerdote então, para passar o tempo, começou a contar sobre um julgamento no qual foi testemunha: a história um bandido que estuprara uma mulher e assassinara o marido dela.
O lenhador, que estava nesse julgamento como depoente, dá a sua versão do que aconteceu.
A história do filme se desenrola no conflito e no emaranhamento das diversas versões que são contadas da mesma história.
Só no julgamento que é relatado na história, ouvimos quatro depoimentos conflitantes: a história na versão do bandido (que está sendo julgado), a história na versão da esposa estuprada, a história na versão do marido que morreu (e ouvimos a versão dele através de uma médium) e, por último, a versão do lenhador (que seria o depoente no julgamento por ter sido o primeiro a ter visto o corpo do marido depois do crime ter sido cometido, mas revela-se que ele também testemunhou o ato e omitiu isso no tribunal).
Essa multiplicidade de versões dentro do mesmo acontecimento tornou o filme conhecido e até mesmo inaugurou que seria conhecido como “efeito Rashomon”, um conceito que se refere à natureza subjetiva da percepção de um fato e à possibilidade de diferentes perspectivas sobre o mesmo evento serem igualmente válidas.
Ou seja, o filme teve um impacto cultural tão indelével que seu próprio nome ganhou vida própria.
O filme tem uma estrutura de narrativa não convencional que sugere a impossibilidade de obter a verdade sobre um evento quando há conflitos de pontos de vista.
Ele foi referenciado por gerações de admiradores, a ponto de qualquer trabalho que incorpore uma estrutura de “narrador de flashback não confiável” acabará sendo comparado a ele.
Rashômon revelou as maneiras pelas quais as pessoas veem o mundo e como elas projetam a realidade e moldam o passado ao seu próprio capricho.
O filme ainda nos provoca ao apresentar, mas nunca responder qual seria a versão verdadeira do fato.
Enfim, Rashomôn é um brilhante filme filosófico de Akira Kurosawa, construído como quebra-cabeça que coloca a memória e a percepção da verdade em suspeição – não entregando para nós as resoluções dos conflitos propostos.