Um grupo de tanukis, dotados de poderes de metamorfose (capazes de se transformar em humanos, objetos ou fantasmas), se reúne para conter o avanço desenfreado dos seres humanos em seu território.
Isao Takahata apresenta aqui uma combinação de comédia e fábula, incorporando elementos do folclore oriental e tons eco-ativistas bastante evidentes.
Confesso que, na primeira vez que assisti, não gostei muito. Para mim, o tema da devoção à natureza sempre permeou os filmes do Studio Ghibli sem necessidade de recorrer ao didatismo explícito.
Neste filme, o discurso ecológico são um pouco mais explícitos do que o habitual. Aliás, diria que são até demasiadamente explícitos. Em determinado momento, um dos tanukis quebra a quarta parede para falar ao público sobre a importância da preservação ambiental. Na primeira vez que vi, tudo isso soava como panfletarização barata.
Às vezes, o desenho até se permite adotar um discurso de misantropia revolucionária, quando um dos heróis impulsivos propõe o “extermínio dos humanos” como solução para o problema.
No entanto, ao assistir ao filme novamente hoje, a impressão de que o filme promovia um certo “esquerdismo antropofóbico” diminuiu consideravelmente. Na verdade, percebi que estava completamente enganado nesse aspecto.
Os personagens mais misantropos no desenho, apesar de não serem repreendidos, são ironizados. O principal deles, Gonta, pode até ser interpretado como um revolucionário fascista de extrema-direita no estilo de Yukio Mishima, com direito até mesmo a uma cena de uma tentativa frustrada de “golpe de Estado”. Além disso, há referências aos Kamikazes perto do final do filme. Como não percebi isso antes?
No entanto, o desenho não baseia sua ética nesse personagem, apesar de compreendê-lo. Em geral, Pom Poko é genuinamente conservador em seu ambientalismo.
Aliás, o pensamento ecológico do Studio Ghibli parece se alinhar bastante com uma visão conservadora de mundo de Watsuji Tetsurō. Se não fosse pela ausência da ideia de excepcionalidade nacional, o Studio Ghibli poderia ser usado como propaganda de guerra.
No entanto, o pensamento tradicional não segue necessariamente esse caminho. Aliás, nem mesmo o pensamento conservador moderno em sua origem.
Uma das coisas mais tristes do pensamento conservador é o abandono do discurso ambientalista. Os poucos que existem hoje são prontamente confundidos com “comunistas”, e o entendimento geral da relação entre conservadorismo e ambientalismo foi apagado do imaginário geral, até mesmo entre os conservadores.
Isso não é culpa de ninguém, mas dos próprios conservadores, que, em geral, tornaram-se cada vez menos inteligentes ou relevantes – ao ponto de se tornarem a negação de si mesmos.
É triste perceber que, hoje em dia, ao ouvir “preservação ambiental”, as pessoas não se lembram imediatamente de Tolkien, Chesterton, Scruton e Burke (ou até mesmo do Papa Francisco), mas de Leonardo DiCaprio e Greta Thunberg.
Pom Poko reflete uma visão cripto-conservadora japonesa enraizada no animismo pré-moderno, no xintoísmo e no budismo.
Nesta obra, há uma noção tradicional que une o sujeito e o objeto da natureza em uma relação caracterizada pela reverência, harmonia, mas também pelo comunitarismo étnico e pela diversidade de comunidades homogêneas (aqui temos a comunidade dos tanukis, a comunidade dos humanos e a comunidade das raposas).
Além disso, o filme possui a minha cena favorita de todos os filmes do Studio Ghibli. A procissão dos Yokais na cidade presta homenagem tanto ao rico panteão imaginário do folclore japonês quanto às belíssimas gravuras do período Edo.
Enfim, mudei radicalmente minha opinião sobre este filme e hoje o considero como um dos melhores.