Os Pássaros é um filme de 1963 que é vagamente baseado numa história da escritora Daphne du Maurier.
Na história de Daphne, um agricultor, sua família e sua comunidade que são atacados por bandos de pássaros à maneira kamikaze.
Uma interpretação da história sugere que ela reflete a experiência britânica durante a Segunda Guerra Mundial, evocando ansiedades sobre o fracasso do governo em proteger seus cidadãos e intrusões em espaços domésticos por intrusos agressivos.
O filme também foi parcialmente inspirado nos verdadeiros eventos de um ataque em massa de pássaros na cidade litorânea de Capitola, na Califórnia, em 18 de agosto de 1961
A sinopse do filme de Hitchcock é tão simples e estranha quanto o evento citado acima.
Em um dia, os pássaros começam de forma repentina e inexplicável atacar violentamente as pessoas de Bodega Bay, um lugarzinho na Califórnia.
Simples assim.
Hitchcock decidiu dispensar qualquer pontuação incidental convencional.
Existem muitas teorias a respeito de um possível simbolismo dos pássaros ou alguma metáfora sugerida neles.
É preciso deixar claro que muitas dessas teorias geralmente são “forçadas de barra” intelectuais. Muitas vezes refletem a pura ansiedade diante de uma obra que só está brincando despretenciosamente com as possibilidades de uma situação absurda.
No entanto, abro exceção para alguns intérpretes exagerados. A minha intelectual exagerada favorita é Camille Paglia, que escreveu um interessante ensaio sobre este filme.
Gosto dela por um simples motivo: sua heróica afirmação que os antigos mitos gregos são muito acertivos em qualquer análise cultural do homem ocidental do que qualquer teoria que tenha surgido na modernidade.
O interesse de Camille por “Os Pássaros” foi mencionado em seu livro “Personas Sexuais”. Ela cita Hitchcock e “Os Pássaros”, em particular, vendo o poder arquetípico do filme como reativação do mito grego das harpias (criaturas da mitologia grega, frequentemente representadas como aves de rapina com rosto de mulher e seios).
Camile Paglia observa que as mulheres desempenham papéis essenciais nesse filme. Mitch é definido por seu relacionamento com sua mãe, irmã e ex-amante – um equilíbrio cuidadoso que é interrompido por sua atração pela bela Melanie. Existe até mesmo no filme uma passagem que parece corroborar com essa visão, quando uma das mulheres aponta um dedo inquisitório para Melanie, acusando-a de trazer a desgraça para cidade.
Camile Paglia entende o filme como uma homenagem ao “glamour sexual da mulher”. Os pássaros rebeldes e vingativos seriam símbolos de uma liberação de forças primitivas de apetite sexual que foram subjulgadas num cativeiro doméstico.
Para Paglia, os símbolos que Hitchcock usa no filme não são se concentram apenas nos pássaros. As casas também possuem um papel simbólico no filme. Elas representam o ambiente doméstico, o cativeiro, a “gaiola” humana. Em outras palavras, as casas representam a própria “civilização” – e são vistas como o único (e frágil) refúgio do qual você pode se esconder do poder selvagem, aleatório, indeterminado e descautelado da natureza selvagem e vingativa.
O filme termina abruptamente com uma fuga, mas não dá pistas de nenhuma resolução, explicação ou qualquer coisa parecida.
Apesar das interessantes discussões, não é um filme para todos. Ele vai precisar que você faça um certo esforço complacente em querer entendê-lo não apenas na sua época, mas considerar também o seu legado.
Visualmente falando o filme envelheceu mau. Os efeitos especiais são extremamente datados.
A crítica torceu o nariz nos primeiros anos de seu lançamento, mas foi aos poucos se convencendo da sua importância.
John Carpenter cita Os Pássaros como uma das obras mais influentes pra ele.
O cineasta italiano Federico Fellini classificou o filme entre seus dez filmes favoritos de todos os tempos.
Akira Kurosawa classificou o filme em 55º lugar em sua lista dos 100 filmes favoritos de todos os tempos.
Se tem uma coisa que me assusta mais do que uma revoada de corvos assassinos é falar de cinema e discordar desses caras.