Dirigido por Hiroyuki Morita, “O Reino dos Gatos” é o segundo filme do Studio Ghibli a não ser dirigido pelos co-fundadores Hayao Miyazaki e Isao Takahata. Antes dele, havia apenas “Eu Posso Ouvir o Oceano”, lançado em 1993 e dirigido por Tomomi Mochizuki.

Trata-se de um spin-off do bom “Sussurros do Coração”.

“O Reino dos Gatos” surgiu a partir de um pedido que o Studio Ghibli recebeu para criar um curta-metragem de 20 minutos para um parque temático japonês. Esse curta-metragem acabou evoluindo para um longa-metragem completo.

O filme conta a história de Haru Yoshioka, uma estudante de 17 anos do ensino médio que salva um gato prestes a ser atropelado. Em agradecimento, ela é levada para o “Reino dos Gatos”.

Não foi um filme que me cativou na primeira vez que assisti. Na verdade, achei-o um pouco fraco, especialmente quando comparado aos outros filmes do estúdio.

Aliás, cheguei até a considerá-lo ruim, desnecessário e até um pouco bobo, com a impressão de que sua existência era apenas comercial.

No entanto, ao assistir pela segunda vez, minha perspectiva sobre ele mudou consideravelmente. Percebo agora que fui desnecessáriamente crítico e talvez um pouco exigente demais com essa obra.

A história é simples e se desenrola de maneira bastante direta, o que me incomodou um pouco no início. No entanto, dada a intenção assumidamente mais descontraída do filme (que não se propunha a competir com as obras mais significativas do estúdio, mas sim a cumprir um contrato de produção), ele desempenha bem o seu papel.

A animação é igualmente simples na maior parte do tempo, mas é caprichada. Em alguns momentos, ela chega a ser deslumbrante, como é característico dos filmes clássicos do estúdio. Por exemplo, quando Haru conhece Barão Humbert von Gikkingen pela primeira vez, temos uma cena belíssima com o pôr do sol iluminando a lateral dos prédios e criando uma luz suave na praça onde ocorre o encontro.

Há também a famosa cena da procissão, que não apenas lembra a cena da procissão das raposas no filme “Sonhos” de Akira Kurosawa, mas também resgata as lendas japonesas retratadas nas ilustrações de Utagawa Kunitoshi.

Havia a crença no folclore japonês de que os gatos possuíam uma sociedade própria, pois à noite eles saíam com outros gatos para destinos misteriosos, retornando somente ao amanhecer. Essas lendas descreviam os gatos saindo de suas casas, vestindo quimonos, apreciando saquê, fumando cachimbos, se divertindo com jogos de tabuleiro e tocando o shamisen em festas selvagens antes de voltarem aos lares quando o dia clareava.

A concepção de que os gatos pertenciam a um “outro reino” é característica do Japão. Na visão cultural do país, os gatos ocupavam uma zona especial entre o status de animal doméstico e animal selvagem e, assim como as raposas (kitsunes) e guaxinis (tanukis), os gatos inspiraram inúmeras histórias fantásticas no rico panteão mitológico do país, incluindo lendas sobre nekomata e bakaneko.

Portanto, “O Reino dos Gatos” não pode ser reduzido a uma simples tentativa de recriar “Alice no País das Maravilhas” (como já foi sugerido em algumas análises). O filme representa uma expressão genuína da cultura local, apresentada em um formato de história infantil com um desenvolvimento eficaz e conciso, embora contenha algumas conveniências narrativas.

Além disso, o filme é marcado por cenas memoráveis. Embora ainda não esteja entre os meus favoritos, está longe de ser tão ruim quanto inicialmente me parecia. Agora, com um maior entendimento da cultura japonesa do que na primeira vez que o assisti, consigo apreciá-lo como uma obra digna.

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