“November” é um filme estoniano de 2017 dirigido por Rainer Sarnet que mescla fantasia, horror folclórico e drama.

Baseado no romance homônimo do escritor estoniano Andrus Kivirähk, o filme se passa na Estônia do século XIX, em uma vila mítica habitada por aldeões pauperizados, espíritos, autômatos mágicos conhecidos como kratts, e até mesmo o próprio diabo, personificado em avatares diversos.

Os habitantes desta vila são pagãos obstinados e blasfemos, castigados com a fome, a peste e a ocupação austro-alemã, que não apenas tomou seus territórios, mas também sua cultura, seus costumes e seu orgulho.

Este é o cenário que nos é apresentado de maneira abrupta.

Logo no início do filme, somos surpreendidos pela aparição de um kratt – uma criatura mitológica da cultura estoniana formada por objetos e um espírito invocado em uma encruzilhada. Eles poderiam ser comparados à versão mitológica de robôs, cuja função é servir ao seu mestre e cumprir suas ordens.

Esse kratt aparece no início do filme, transportando uma vaca até seu mestre, sem explicações detalhadas. O diretor nos confronta com imagens de uma estrutura metálica com correntes e um crânio de animal voando com uma vaca por cima de uma árvore. Percebemos, então, que a perplexidade é exclusivamente nossa, já que os próprios personagens parecem não se surpreender com o estranho acontecimento diante de seus olhos. Isso nos leva a especular que estamos sendo inseridos em um ambiente onde o que nos parece extraordinário é, na verdade, algo cotidiano para os personagens da história.

A escolha do diretor em não oferecer explicações detalhadas é coerente com o espírito nacionalista e identitário do filme, que reforça constantemente o apego das identidades culturais e religiosas originais. A mensagem é clara: se você não está familiarizado com a fauna folclórica da Estônia, o problema é seu.

Essa abordagem, longe de nos afastar, cria uma atmosfera fascinante de estranheza e mistério, tornando o filme ainda mais cativante. Além disso, as qualidades técnicas e estéticas do filme são notáveis, com uma abundância de planos criativos e uma composição de luz e sombras maravilhosa, realçada pelo uso do preto e branco, que nos transporta para uma atmosfera onírica única – algo como uma ilustração sombria de Gustave Doré.

Existem outras ideias muito interessantes que são exploradas no filme, mas acredito que a âncora do estranhamento e do mistério, além do desafio de explorar os recantos mais profundos da cultura e do folclore estonianos numa experiência visual e narrativa única e original já valem pela recomendação.

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