Na Praia à Noite Sozinha” é um drama sul-coreano de 2017, escrito, produzido e dirigido por Hong Sang-soo.
O filme gira em torno de uma premissa central: Young-hee, uma atriz fracassada, vive o estresse de um relacionamento com um homem casado na Coreia. Na praia, ela se questiona se ele sente falta dela da mesma forma que ela sente falta dele.
Esta foi a segunda vez que assisti ao filme. Na verdade, o revi por acaso. Não era minha intenção revisitá-lo; ele simplesmente apareceu novamente na minha lista e acabei assistindo. Não lembrava se já o tinha visto pelo título.
A primeira vez que vi esse filme foi em uma mostra de cinema oriental, ao lado de uma ex-namorada. Na ocasião, achei o filme extremamente tedioso, assim como ela. A fotografia escura e os diálogos longos e triviais me deixaram entediado, e em vários momentos acabei adormecendo. Ao acordar, estava no meio de um diálogo, sem entender nada, o que me gerou ansiedade por não conseguir acompanhar a conversa.
Mesmo que tivesse prestado atenção, na época não estava interessado em interpretar o filme. Queria apenas voltar para casa, comer, transar e dormir.
Nesta segunda vez que assisti, o filme me pareceu muito melhor. Evito julgar definitivamente uma obra consumindo-a apenas uma vez, especialmente obras complexas que exigem engajamento, boa vontade e disposição. Além disso, rotular um filme como “chato” nunca foi um argumento válido para mim.
Isso não anula os defeitos do filme, obviamente. Ainda vejo problemas de ritmo e iluminação, mas acredito ter compreendido melhor a mensagem que ele tenta transmitir.
Em muitos momentos, o filme conseguiu me envolver bastante.
A narrativa possui um romantismo sombrio, controlado e friamente cômico. Embora o filme funcione para qualquer audiência, acredito que seja mais impactante para o público oriental, pois e um público que é conhecido por reprimir muito suas vontades (e isso eles mesmo o dizem) através de máscaras de cortesia e hospitalidade.
Os diálogos, especialmente aqueles regados a álcool, começam com essa extrema formalidade das convenções sociais orientais, e explodem em uma erupção vulcânica de emoções.
Há também subtextos de metalinguagem, e Hong Sang-soo possivelmente aproveitou a instabilidade da personagem principal para confessar alguns de seus caprichos metafísicos e inserir reflexões autobiográficas.
Notei que o diretor reflete bastante sobre a própria arte e como ela pode tanto amenizar o sofrimento quanto encobri-lo com mentiras e autoenganos.
No meio do filme, um diretor de cinema genial confessa fazer filmes com teor íntimo, pois não sabe lidar com sua própria intimidade sem ficcionalizá-la em uma obra, transferindo sua vitalidade para a produção. Isso, pra mim, representa uma reflexão extraordinária.
Fico feliz de conseguir achar genuinamente valor nesse filme, embora ainda o ache um filme cansativo.