Longa Jornada Noite Adentro é um drama franco-chinês dirigido por Bi Gan, lançado em 2018.

Trata-se de um filme bastante confuso e fragmentado. Na cena de abertura, Luo Hongwu (personagem principal) comenta com uma prostituta após uma relação sexual como ele é assombrado pela memória de uma mulher que desapareceu. A história de seu envolvimento com aquela mulher é então contada em uma série de cenas não lineares e fora de ordem.

A primeira parte do filme eu tive sentimentos mistos. Estava bastante desconfortável com a história fracionada e túrbida ao mesmo tempo que estava completamente absorto tanto pelo estilo elegante, claustrofóbico e exótico do noir-oriental quanto pela trilha sonora sombria e hipnótica a base de música acústica e sintetizadores.

O filme joga informações da mesma forma que alguém espalha as peças de um quebra-cabeças no chão e, talvez, o grande segredo para aproveitar a primeira hora do filme é resistir ao impulso de tentar juntar as peças.

Algumas informações parecem ser recorrentes além da misteriosa mulher, como por exemplo a recorrente menção a cidade do protagonista, Kaili e um personage chamado “Gato Selvagem”.

No filme, alguns elementos também se repetem como um letmotiff wagneriano, como a maçã e um revolver – que parecem assumir significados mais simbólicos na trama. No entanto, nada disso é facilmente decifrável e talvez nem seja de fato para que esses elementos sejam decifrados.

La pela metade do filme, o protgonista entra num clube de strip e adormece num cinema erótico.

O personagem, tempos depois, acorda e percebe um cinema vazio.

O filme então assume uma sequência ininterrupta de 59 minutos onde o que é sonho e o que é realidade se tornam coisas ambíguas.

O filme se assume numa perspectiva mais onírica e todo o desconforto gerado na primeira parte se dissolve.

Essa perspectiva mais surrealista que o filme passa a assumir me libertou da obrigação racional de entender.

Me rendi sensorialmente ao filme sem tentar decifrá-lo, tal como eu faço com os filme do David Lynch, já aceitava toda decisão que me era mostrada em tela como um convite a uma experiência de abandono.

Nesse momento, já assumi que todo filme, desde o começo, estava se pautando na memória devanescente de uma pessoa e percebi que a beleza da obra é redobrada quando os grilões da razão já não o prendem mais e você se deixa dissolver a própria lógica diante de seus olhos.

O que resta é apenas as sensações, a pura estética das imagens e do sons que, desde o começo, te cativam.

 

 

Recomendado

A sociedade de formigas

Podcast Recente

Rolar para cima