Nova York, primavera de 2012. Howard Ratner (Adam Sandler) é o dono de uma loja de joias, que está repleto de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos.
Os irmãos Safdie, através de vários planos detalhes e rítmo video-cliptico, exploram muito um universo inquieto de atletas negros, comerciantes judeus e agiotas – todos ricos – numa composição que consegue soar ao mesmo tempo luxuosa, ostensiva e underground.
Os minerais preciosos no filme, especialmente um monólito cravado com diversas opalas negras, uma das pedras preciosas mais raras do mundo, possuem uma importância crucial.
Toda a trama orbita em torno deste objeto, desde a exploração da Etiópia, passando pela sua ressignificação econômica nas mãos de Howard e concluindo na sua “re-ressignificação” mágica nas mãos do famoso jogador de basquete Kevin Garnett (que acredita que o objeto lhe trás sorte nos jogos).
Apesar do dinheiro hoje em dia parecer possuir uma espécie de valor agregado numa projeção imaterial, ou seja, virtual, as pedras preciosas e joias (como ouro, diamantes e opalas), são tangíveis e justificam seu próprio lastro. Elas agregam tanto uma certa reverência ancestral quanto um valor econômico real. Nas mãos de Howard, elas são ostentadas em brincos, braceletes e cordões.
A música do filme reforça isso. O seu trabalho aqui é realçar tanto a dimensão abstrata e espiritual da trama, com sons de sintetizadores, quanto seu aspecto mais “carnal” e “sexual”, na música eletrônica pop.
A ressignificação (e re-ressignificação) de objetos e a sobrecarga da trilha sonora intensifica uma experiência cinematográfica coerente.
Precisamos falar ainda de Adam Sandler. Meus amigos, que atuação. Pra mim, Adam Sandler fez algo comparável ao que Al Pacino faz em seus melhores filmes. Ou seja, um caos controlado.
Existe uma bagunça verborrágica em suas falas, muita gritaria, momentos de fúria, de desespero e, em nenhum momento, há um descontrole que o faz a cair no overacting (muito comum em atores como Nicolas Cage e o próprio Al Pacino, por exemplo). Há claramente uma grande área de improvisação nessa atuação por meio do pandemônio que o personagem principal é submetido: intimidações, brigas, ser levado a força de um lado para outro, ser enfiado dentro de um porta-malas ou ficar de ponta cabeça numa janela, pendurado pelos pés. Adam Sandler ainda consegue tirar, de tudo isso, piadas pontuais e deboches.
Em todos os seus diálogos, há sempre um quinhão presente que sugere ludibriação (o personagem é um sacana), fazendo com que, além da entrega e do improviso, atue com uma conformidade verossímil com o personagem, sem chamar a atenção para si.
Isso não é possível sem três coisas: talento (ele tem), entrega (ele entregou) e estudo (possivelmente, ele estudou esse personagem profundamente).
O mérito de atuação de Sandler faz você esquecer TODAS as comédias românticas bobas que ele fez e ver apenas o personagem que ele se propôs a fazer no filme. Para um rosto tão conhecido e tão marcado na memória por um tipo de filme, esse mérito é dobrado.
Sim, ele foi esnobado.