A segunda temporada (lançada em 2019) parece ter uma ideia geral muito interessante, mas não tão bem executada ou desenvolvida: a noção de que tragédias ocorrem mesmo quando tentamos fazer o que é certo. Melhor ainda, muitas vezes as tragédias acontecem precisamente quando tentamos agir corretamente.
Desde o final da primeira temporada, acompanhamos Johnny Lawrence em sua busca por reformar o Cobra Kai. O ponto crítico para ele é o lema “show no mercy” (não mostrar misericórdia), que foi sua ruína como pessoa. No “novo Cobra Kai“, a falta de piedade será substituída pela honra, mantendo o fervor característico pela busca de um oponente mais forte e desafiador.
Além disso, ele mesmo pratica o que ensina, dando uma segunda chance a John Kreese, seu antigo sensei, que encontra em um delicado momento de vulnerabilidade e espírito reconciliador. O problema é que os acertos morais de Johnny Lawrence também foram sua ruína. Sua compaixão por Kreese fez com que o Cobra Kai caísse definitivamente em suas mãos, voltando a ser o que era no final da temporada.
A compaixão de Miguel, aluno de Johnny e praticamente o protagonista da série, também resulta em tragédia. Aprendendo no novo Cobra Kai de Lawrence, Miguel baixa a guarda e fica gravemente ferido em uma briga com Robbie, filho de Johnny Lawrence, que foi “adotado” por Daniel Larusso.
Os acertos morais de Daniel Larusso também contribuem para as tragédias que culminaram na hospitalização de sua própria filha após uma violenta briga na escola. Ao tentar reabrir o Miyagi-Do, para contrastar com o Cobra Kai (que ele não sabia que estava em processo de reorientação filosófica), ele acaba dividindo a cidade em duas facções rivais, transformando uma escola em um campo de batalha de gangues.
No entanto, a segunda temporada possui boas ideias, mas se ocupa demais em desenvolver um desinteressante quadrilátero amoroso entre Miguel, a filha de Daniel Larusso, Robbie e uma nova personagem chamada Tory, que surge nessa temporada e mantém um relacionamento amoroso com Miguel.
O romance nesta temporada é o ponto fraco da série, pois, além de desinteressante, chama mais atenção do que deveria. O que poderia ser um embate interessante de causas e consequências, e o confronto entre dois pontos de vista igualmente válidos (a serenidade do Miyagi-Do e a vitalidade do Cobra Kai), traduz-se em uma disputa ridícula entre duas garotas para ver quem consegue equilibrar-se mais em uma cadeira, tirando o foco do tema central.
Apesar disso, há algumas cenas muito bonitas nessa temporada, como o reencontro de Johnny com seus antigos companheiros do Cobra Kai, sendo que um deles está com uma doença terminal. Explorar mais esses momentos poderia ser muito mais interessante do que mostrar uma guerra civil de adolescentes motivada por ciúmes. Boas ideias, mas a execução deixa a desejar.