Cobra Kai é uma série lançada em 2018 no YouTube Premium, que se passa 34 anos após os eventos do primeiro filme da série Karate Kid, de 1984.
De um lado, temos Johnny Lawrence, um sujeito frustrado que vive sendo atormentado pelas lembranças do dia em que perdeu o torneio de karatê para Daniel Larusso.
Do outro lado, temos o próprio Daniel Larusso, um chefe de família bem-sucedido e dono de uma concessionária de carros de luxo.
Johnny, cansado de remoer o passado e motivado por um forte senso de rivalidade que ainda não morreu, resolve reabrir o antigo dojo Cobra Kai – um local que representou, para ele, breves momentos de glória.
Isso surpreende Daniel Larusso, que acaba descobrindo isso por acaso.
Há outros núcleos de personagens paralelos que são tão importantes, ou até mais, do que esses dois personagens. Temos o núcleo familiar dos Larusso, o filho de Johnny Lawrence que encontra em Daniel uma figura paterna presente e amorosa, algo que nunca viu em seu pai, e o grupo mais interessante, formado por alunos rejeitados e marginalizados do Cobra Kai: um grupo de nerds e vítimas de bullying que enxergam na filosofia agressiva do Cobra Kai um refúgio libertador de um mundo sufocante, que sempre tenta superprotegê-los de qualquer perigo ou ameaça, impossibilitando que eles desenvolvam mecanismos satisfatórios de autodefesa.
Quando Cobra Kai foi lançado, estávamos vivendo uma onda de nostalgia dos anos 80, impulsionada pelo fenômeno Stranger Things, uma série lançada dois anos antes na Netflix.
Uma série sobre o universo de Karate Kid (o primeiro e verdadeiro bom) com os atores originais e ainda mostrando cenas do filme em flashbacks é inegavelmente saudosista e, obviamente, se apoia muito na nostalgia como atrativo.
Cobra Kai, no entanto, é muito mais do que uma produção americana que se apoia no resgate da memória afetiva de seu público para gerar receita: é uma série de diálogo entre gerações.
O surpreendente diálogo intergeracional se reflete muito bem na interação entre Johnny Lawrence (um retrato do “valentão” dos anos 80) e seus alunos (nerds e rejeitados do final da segunda década dos anos 2000).
Sendo uma produção de 2018, havia o perigo de duas coisas: a primeira (e pior de todas) é transformar um clássico produto dos anos 80 em discursos politicamente corretos para torná-lo palatável para os ‘expectadores sensíveis’ de hoje em dia.
A segunda coisa problemática seria a série se assumir politicamente incorreta apenas como válvula de escape para agradar nerds mais velhos que, de forma mais reativa que racional, idealizam o passado e confundem hostilidade gratuita com virilidade.
A série não toma partido de uma geração ou outra: a narrativa é clara em reconhecer os erros da insensibilidade do ‘valentão do passado’ (que era agressivo e, muitas vezes, bastante cruel – um vilão propriamente dito) e, ao mesmo tempo, reconhecer que essa geração, com discursos forçados de inclusão, tornou-se fraca demais e perdeu a vitalidade, a autenticidade e até a capacidade de se proteger num mundo que sempre foi e sempre será cruel.
Existe uma palavra que paira em basicamente todos os episódios: equilíbrio, o meio-termo. É exatamente isso que a geração atual e a geração anterior precisam