Meu Deus. Qual era a ideia do Scorsese nesse filme?

Cabo do Medo parece querer resgatar aquela experimentação “exploitation” do seu segundo filme, Sexy e Marginal de 1972 – um dos seus piores trabalhos.

Todo filme é uma sequência cartunesca de violência espalhafatosa (até meio cômica) e situações inverossímeis que me deixou na dúvida se o diretor estava lúcido quando fez isso.

É um filme estranho, mas não é aquela estranheza genial que vimos em Depois das Horas (1985), um dos seus melhores trabalhos.

Às vezes, não sabia se estava assistindo um filme do Scorsese ou um desenho do Papa Léguas.

Nenhum personagem é convincente e o terror psicológico não funciona – por diversos motivos.

Primeiro, acho que nunca vi Robert de Niro tão caricato. Ele claramente não estava levando a sério seu personagem – e nem acho que deveria.

Podemos dizer que o personagem de De Niro é um super-homem nietzschiano, disfarçado de mercenário pentecostal que fuma charutos.

Acredito que a ideia é fazer dele uma espécie de Satanás, que tem a capacidade de se transformar no pior medo ou desejo de seu inimigo.

No entanto, tanto sua cultura filosófica quanto sua capacidade magnética são tão inverossímeis que chegam a ser ofensivas (estamos falando de um personagem que foi para cadeia analfabeto e saiu de lá citando Nietzsche e a Bíblia em correlações coerentes e bem vinculadas).

O conceito seria interessante se fosse bem executado. Scorcese poderia muito bem abraçar a galhofa e ter assumido um tom de sátira – orientado De Niro como Kubrick orientou com Malcolm McDowell em Caligula (1979).

O excesso de violência é acompanhado, também, pelo excesso de floreios técnicos desnecessários: filtros vermelhos, cores negativas, cortes secos, zoons rítmicos, ângulos expressionistas, planos detalhes intensos, movimentação vertiginosa de câmera.

Scorsese usou todas as técnicas disponíveis para criar um efeito dramático em cada cena – no entanto, ele me deixou mais anestesiado do que envolvido. Certo momento, eu já estava esperando tudo – na última cena, se aparecesse o Bolsonaro em cima de um Velociraptor falando “vamos, suba, não há tempo para explicar”, eu não ia questionar.

Só não dou uma estrela pois teve momentos que eu genuinamente me diverti.

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