Como o homem religioso pensa o mundo?

Antes de ler Eliade eu tinha uma suspeita que o entendimento mais primordial de um religioso em relação as suas próprias crenças sagradas é completamente diferente do que se tem hoje.

Não é um entendimento “simbólico”, “metafórico” – que poderia descarrilar numa espécie de ateísmo prático, reduzindo a religião como um instrumento de pedagogia moral floreada com histórias fantásticas.

Tão pouco é um entendimento plenamente literal, pois todo mito tem estruturalmente uma dimensão artística.

Todo gesto ritual, por exemplo, é a teatralização de algum evento cósmico significativo: exige papéis, roteiros, incorporações e cenários.

O entendimento mais primordial, segundo Eliade, não diferencia símbolo e matéria (ou verbo e carne, no entendimento cristão), ao passo que um sacerdote babilônico tinha tanto a plena convicção de que Marduk lutou de fato contra uma Serpente Marinha, num tempo cósmico distante, quanto entendia que essa luta simbolizava o “princípio da Ordem” se sobressaindo sobre o “princípio do Caos”.

Cristo se intercambiava em homem, Deus, cordeiro, pão e vinho pois todas essas coisas definiam tanto o que Ele era quanto o Ele representava.

Por isso um católico soa maluco quando diz que a eucarístia é LITERALMENTE corpo e sangue de Cristo.

O mito, segundo Eliade, é solidário da ontologia.

O problema da modernidade não é apenas que ela segmentou a compreensão humana do universo, mas tornou esses segmentos irreconsciliáveis: ao passo que o cientista, o poeta, o agricultor e o sacerdote são tragicamente pessoas diferentes.

Imagem: Serpente Marinha de Orlando Furioso, Gustave Dore.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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