Nos séculos XIX e XX, havia uma impressão geral que a filosofia ficou esmagada, humilhada pelo imperialismo da física (como bem definiu José Ortega y Gasset) e apavorada pelo terrorismo intelectual dos laboratórios.
A investigação da realidade, que era seu emprego por excelência, teve que ser dividida com outras áreas do conhecimento, que estavam ganhando corpo e se provando como axioma.
Essas áreas estavam criando uma ponte de conexão visível entre teoria e experimento – algo que a filosofia nunca foi (e, talvez, nunca será) capaz de fazer com tanta precisão.
Muitas vezes, a filosofia era até mesmo preterida em determinados assuntos que necessitavam uma validação concreta na realidade.
Isso não é necessariamente ruim. Os filósofos precisaram se retrair um pouco tornaram-se mais humildes em suas pretensões, tal como eles obrigaram os teólogos e místicos.
A filosofia, depois de supostamemte destronar a religião e a mitologia, parecia destronada pelas ciências naturais, passando a se ocupar quase exclusivamente na mera “teoria do conhecimento”.
No entanto, a filosofia não apenas nunca desapareceu quanto também nunca se retraiu – assim como a religião.
Fomos nós que nos tornarmos cegos para a assombrosa onipresença da filosofia e da religião em tudo que chamamos de saber, conhecimento e experiência.
A filosofia e a religião são tão abrangente que não a notamos.
Tudo passa por elas e tudo se define por elas.
A filosofia é tão inescapável que até mesmo a pretensão de pensar sua inutilidade já é um ato filosofico.
A religião vai além.
Existe um homem alojado dentro de cada físico que, de bom grado ou ao seu contragosto, é magnéticamente atraído pelo impuslo de investigar as primeiras e enigmáticas causas de tudo.
Se do ponto de vista histórico há uma impressão de que saímos da religião, passamos para filosofia e terminamos nas ciências naturais, apagando as pegadas dos passos anteriores ao longo do percurso. O homem reprimido dentro da matéria, ao longo da história e ainda hoje, percorre o sentido oposto: ele sai da matéria e caminha, pelo o espírito, em direção a Deus, acredite você Nele ou não.
Antes da verdade científica se proclamar a última palavra no entendimento pleno da realidade, é necessário entender que os termos que a definem como “verdade” e como “ciência” foi lhe dada pela filosofia por empréstimo.
A filosofia, por sua vez, pode até ser materialista ou ateia. No entanto, se a sua relação com a “sofia” (conhecimento) ainda for de “filo” (amizade), sua vocação ainda é magnetizada pelo entendimento que ainda opera na crença de que existe uma ordem oculta na realidade que precisa ser revelada ou resolvida pela razão.
Se a filosofia não for baseada na crença de que há verdade e a mentira, o bem e o mal, o melhor e o pior – o binarismo essencial que percorre a religião por excelência, ela nem precisava existir.
Em suma, tudo ainda se alimenta no seio místico da fé.
Com maturidade, vemos que as ciências naturais ainda estão subordinadas à jurisdição filosófica e esta ainda está subordinada à jurisdição da teologia.
Este texto foi inspirado pela leitura do livro “O Que é Filosofia” de José Ortega y Gasset.