Uma coisa interessante que ocorre pelas ruas do Japão é que sempre às 17h você consegue ouvir uma suave e enigmática melodia.
Essa melodia enigmática é transmitida por uma rede de alto-falantes localizados em todas as cidades e vilas.
Obviamente, a função desses alto-falantes não é apenas tocar uma musiquinha. Eles fazem parte de um sistema nacional de alerta de tsunamis e outros desastres naturais (e também um aviso quando a Coreia do Norte lança mísseis perto do Mar do Japão). Por isso estão presentes em todo o país.
Antes da proliferação dos relógios de bolso e da tecnologia avançada de hoje, esses sinos eram marcadores integrais da passagem do tempo. Eles pontuavam o ritmo da vida diária, sinalizando o fim de um dia escolar e lembrando as crianças de voltarem para casa. Hoje, mesmo em meio à cacofonia do mundo tecnologicamente saturado, essa sirene persiste ressoando pitorescamente.
As melodias variam dependendo do local.
A mais famosa canção das 17h é chamada de “A Libélula Vermelha” (a música deste vídeo), composta por Kōsaku Yamada em 1927, com letras de um poema de 1921 de Rofū Miki. É uma representação nostálgica de uma libélula vermelha japonesa vista ao pôr do sol (mais ou menos às 17h) por uma criança sendo carregada no ombro de uma irmã mais velha.
O Japão é um dos países piores do mundo em relação ao equilíbrio entre vida e trabalho (inclusive, esse é o principal motivo de sua baixa natalidade – e um dos motivos pelos quais eu NÃO fantasio em morar lá, mesmo admirando todos os outros aspectos do país), perdendo apenas para países como a Coreia do Sul e a China.
Talvez, a melodia das 17h seja a coisa mais importante do Japão. Talvez seja a coisa que, se ouvida com atenção, vai salvar o país de seu já profetizado desaparecimento.
O toque das 17h, que se tornou um componente central da rotina diária, significa originalmente, para aqueles que ainda o ouvem, a necessidade de mudar de compromissos profissionais para momentos pessoais ou familiares.
A melodia é um lembrete de que o Japão só precisa descansar.