José Ortega y Gasset no segundo capítulo de “O que é Filosofia” começa se questionando sobre as mudanças constantes do pensar filosófico, político e artístico ao longo dos tempos. Para o filósofo, essa “constante inconstância” tem uma explicação que historiadores, segundo ele, costumam não dar muita importancia: a ideia de geração.
Não que os historiadores ignorassem, mas não davam a devida atenção que o filosofo achava necessário.
Avaliar a ideia de geração como instrumento de compreensão das dinamicas internas do processo histórico foi ventilada não apenas por Jose Ortega y Gasset (filósofo), mas por Wilhelm Pinder (historiador da arte), Julius Petersen (historiador da literatura) e Karl Mannheim (sociólogo).
A ideia de geração para Ortega y Gasset é importante pois, para ele, para que algo importante mude no mundo, é preciso que antes mude o tipo de homem (no sentido amplo e generalizado de “humanidade”) – pois é deste que sai a história.
Ortega y Gasset complexifica a questão da geração pois a coloca o contexto da sua existência num necessário conflito, quando analisado no recorte do “hoje”.
O “hoje” é algo muito mais complexo do que se imagina e é através dele que, pelo menos parcialmente, explicamos a “constante inconstância” do ser humano.
Para Ortega y Gasset, todo “hoje” envolve, a rigor, três tempos distintos, três “hoje” diferentes, devido a coexistência de três gerações vivendo no mesmo espaço: os jovens, os homens maduros e os velhos.
São três grandes dimensões vitais que convivem alojadas nesse mesmo “hoje”, enredadas umas com as outras e, ao serem diferentes, necessariamente coexistem em essencial hostilidade.
O rapaz, o homem maduro e o ancião expõe manifestamente o dramatismo dinâmico, o conflito e o choque que constitui o fundo da matéria histórica.
A luz dessa observação, vê-se o equívoco oculto na aparente clareza de uma data. 1929, 1945, 1968, 1989 parecem um único tempo, mas em cada uma destas datas importantes vivia um rapaz, um homem maduro e um ancião. Isso significa que cada uma destas cifras se triplica em três significados diferentes e, simultâneamente, abarca os três.
No tempo cronológico coexistem três tempos vitais distintos e, através desse desequilíbrio, a história se move, muda, flui e roda.
Somos todos contemporâneos pois vivemos num mesmo tempo e atmosfera, mas é necessário analisar a contemporâneidade coexistindo com a coetaneidade.
O hoje é dificil de se explicar pois é a um só tempo contemporâneo, coexistente e coetâneo.
Se todos os contemporâneos fossem tambem coetaneos, a historia ficaria cristalizada e petrificada num gesto defnitivo, sem a possibilidade de qualquer mobilidade.
No entanto, a complexidade de se analisar o presente ainda não para por ai, pois dentro de cada grupo geracional há uma porosidade, que faz com que grupos geracionais aprisionados no mesmo tempo presente pratiquem seus escambos, suas alianças estratégicas, suas permutas e também conspirem entre si – o que deixa a avaliação do presente ainda mais caótica.
Isso explica, parcialmente, a relatividade entre tendências conservadoras e progressistas intermediando estes três tempos vitais.
Nem sempre anciãos serão mais conservadores e nem sempre jovens serão mais progressitas.
Aliás, se colocar em absoluto em qualquer um destes campos não é nada mais nada menos do que fugir do grande desafio e da grande responsabilidade de se colocar no presente.
Ser apegado ao passado e a memória, como geralmente faz um conservador, é apenas posição confortável de sair do presente e idealizar um tempo que não exsitiu, ignorando que o passado idealizado também já foi um “presente” e um resultado dinâmico de forças em colisão.
Ser apegado ao “devir”, ao “futuro” e ao que “poderia ser”, como geralmente faz um progressita, é igualmente um apego preguiçoso, pois o futuro, que só existe no universo da projeção, é a massa de modelar perfeita: um “algo” pode ser tudo aquilo que a ideologia prometer.
Dito isto, como eu me defino?
Sinceramente, eu não vou fingir que consigo me colocar plenamente no presente.
Embora tenha dificuldades de me aceitar como conservador, nunca escondi que tenho uma tendência conservadora pois, entre um apego ao passado e um futuro, na avaliação débil do meu presente, o passado e a memoria é a unica coisa que sobra com alguma feição de real – e o único lugar que pode me indicar um estado de prudência, mesmo que falho e tosco.
Na minha humilde e irrelevante opnião, o passado se sobrepõe ao futuro pois, pelo menos, exsitiu.
Talvez em outros contextos eu poderia me entender como progressitas (ou até revolucionário) – no entanto, nos últimos séculos, a violência que foi praticada (e, pior, justificada) pela ideia de um mundo melhor futuro é tão grande que não consigo mais me colocar plenamente neste campo ideológico do progressista.
Não que eu demonize a ideia do progressismo, mas também não consigo santificar ela como exigem os “novos moralistas” que se arrogam estar do “lado certo da história”.
Minha postura é a menos atraente possível hoje – tanto de um lado quanto de outro. Minha postura é a de um “conservador” insosso e moderado, aquela figurinha pouco inspiradora e pouco literária, com aquela predisposição insípida para o centro. Aquela figurinha que tenta resolver as contradições internas e que, pro bem ou pro mal, absorveu certas tendências revolucionárias e progressistas enquanto elas me pareciam inofensivas, convenientes ou até mesmo necessárias – mas sem abraçar tudo.
Ou seja sou essa massaroca dialética sem cor que vocês acham que conhecem.