Teshub era o deus hurrita do clima e o chefe do panteão sagrado.
Sua alta posição na religião hurrita refletia a importância generalizada dos deuses do clima no norte da Mesopotâmia e áreas próximas, onde, em contraste com o sul, a agricultura dependia principalmente das chuvas e não da irrigação.
Como uma divindade associada ao clima, Teshub poderia ser retratado tanto como destrutivo quanto protetor. Fenômenos climáticos individuais, incluindo ventos, relâmpagos, trovões e chuva, poderiam ser descritos como suas armas. Acreditava-se também que ele permitia o crescimento da vegetação e criava rios e nascentes.
As representações de Teshub são raras, embora se concorde que ele era normalmente retratado como uma figura armada e barbuda, às vezes segurando um feixe de raios. Em algumas de suas representações, ele foi retratado dirigindo uma carruagem puxada por dois touros.
A mitologia de Teshub se assemelha muito a alguns mitos gregos e egípcios.
Teshub nasceu do crânio dividido de Kumarbi (pai dos deuses, segundo a cultura hirrita) depois que ele arrancou os órgãos genitais de Anu durante um conflito pela realeza.
A ideia do nascimento de uma cabeça lembra muito o mito de Athena e a parte do esquartejamento genital lembra muito a história de Seth e Osiris.
Essa tradição também é referenciada em inúmeras outras fontes, incluindo hinos e inscrições locais.
A ideia de que um mito plagiava outro é apenas relevante em discussões vazias de Internet. A fé dos homens era redobrada quando viam que a história dos seus deuses foi espelhada em outro.
Também é muito interessante notar que a ideia de tradição e continuidade não era algo refratário a misturas.
A esposa de Teshub, por exemplo, era Ḫepat, uma deusa originalmente adorada em Aleppo e que foi incorporada ao panteão hurrita neste matrimônio.
Existe uma surpreendente continuidade religiosa na Ásia Menor desde o sétimo milênio até a implantação do Cristianismo.
Essa região, segundo Mircea Eliade, é caracterizada por uma espantosa vocação para o sincretismo religioso.
A história dessa região deriva de sucessivas dominações, assimilações e simbioses interessantes. As culturas hititas, ariófonas, babilônicas, hurritas, hatianas e sumérico-arcadianas confundiam entre si os seus deuses numa espécie de intercâmbio celeste.
Não pense que isso represente uma coexistência pacífica ou algum apelo multiculturalista moderno. Pelo contrário. A antiguidade, especialmente nessa região, era conhecida por guerras impiedosas, nas quais uma civilização era construída na ruína completa de outra.
Enquanto a conquista e a violência dividiam os homens, as religiões, por mais diferentes e antagônicas que fossem e por mais que pudessem ser usadas para justificar algumas dessas incursões, cumpriam o papel de aplainar a existência humana em um denominador comum.
O que acontecia era o seguinte: os homens guerreavam entre si, e os deuses, indiferentes, se casavam e convidavam os vencedores para o matrimônio.
O templo dedicado a Teshup (dos Urques) e Hepat (de Aleppo) era um leito nupcial marcado com ideogramas babilônicos.
Um povo poderia ser dizimado, mas, de alguma forma, seus deuses ainda eram ouvidos, por mais que fossem demonizados, literalizados, mitologizados ou folclorizados.